Esporte e cultura. Que bichos são esses?

Nossos heróis olímpicos têm feito o que podem. De um país sem governo, para o qual esporte e cultura são palavrões, quando não têm patrocínio privado ou o privilégio de treinar lá fora, enfrentam, com coragem e bravura, os concorrentes chineses, japoneses, americanos, russos, canadenses, australianos, britânicos, franceses, alemães e italianos bem nutridos e bem adestrados, com apoio estatal ou de poderosos patrocinadores.

Por isso, é preciso saudar com emoção os jovens brasileiros que fazem das pernas e dos braços coração para participar das Olimpíadas, sejam eles ginastas, skatistas, esgrimistas, surfistas, velejadores, canoístas, mergulhadores, judocas ou astros da bola, da velocidade, do peso, do dardo, da raquete, do boxe, da natação, do vôlei, do basquete, do tênis e todos os demais.

Vivêssemos em um país civilizado, governado por gente do bem que cultuasse, como os demais, a educação, o esporte e a cultura, o caminho seria muito mais fácil e os resultados bem mais animadores. Infelizmente, não somos. Os atuais governantes não têm a menor preocupação com a educação e a cultura; imagine, então, com o esporte!

O acervo cinematográfico nacional acaba de arder em chamas. Havia muito tempo que pedia socorro, abrigado em instalações precárias, mal conservadas. Providências foram imploradas e reiteradas. Havia no acervo obras que envolvessem militares ou evangélicos? Provavelmente, sim. Mas, na dúvida, deixa queimar. Se fosse um quartel, o socorro seria imediato. Um templo evangélico, o milagre viria rápido dos céus.

No sábado passado, foi reinaugurado, em São Paulo, o Museu da Língua Portuguesa, incendiado em 2015. A restauração levou seis anos e contou, também, com recursos federais. É o primeiro museu do mundo dedicado a um idioma, falado em cinco continentes por 261 milhões de pessoas. Daí a sua importância internacional. Fizeram-se presentes, chegados do outro lado do planeta, os presidentes de Portugal, Marcelo Rebelo de Sousa, e de Cabo Verde, Jorge Carlos Fonseca. E o presidente do Brasil? O capitão Messias não compareceu porque tinha coisa mais importante para fazer: um passeio de moto em Presidente Prudente, interior de São Paulo, acompanhado da sua horda de zumbis adestrados. Ninguém sentiu a falta dele. Até porque, segundo o lusitano Marcelo Rebelo, estava-se a celebrar o futuro.

O futuro não é coisa de Jair Bolsonaro. Ele vive preso ao passado e a iniciativas retrógradas, e tem feito o possível para comprometer o futuro do Brasil. Na cerimônia de reinauguração do museu estaria totalmente deslocado. Fala uma língua que diz ser o português, mas há dúvidas a respeito. Normalmente, é difícil entender o que ele diz. E, do idioma de Camões, parece conhecer apenas os impropérios, as ofensas e as mentiras.

Voltando às Olimpíadas: segundo fonte bem informada, nosso Messias tinha olhos apenas para o desempenho dos atletas militares. Neste ano, dos 302 atletas classificados, 91 são das Forças Armadas. Para ele, cada medalha conquistada seria a oportunidade de enaltecer o governo, posto que tais atletas fazem parte de um programa do Ministério da Defesa, denominado Programa de Incorporação de Atletas de Alto Rendimento (PAAR) – uma criação do governo Lula –, no qual são investidos anualmente R$ 38,3 milhões.

Até a noite de ontem, quarta-feira, porém, o resultado foi minguado e apenas sete atletas bateram continência para a bandeira nacional brasileira. Nem 10% dos milicos inscritos. Pela ordem alfabética: Abner Teixeira (boxe), Alison dos Santos (corrida de 400m com barreira), Ana Marcela Cunha (maratona aquática), Daniel Cargnin (judô), Fernando Scheffer (natação), Hebert Conceição (boxe) e Kahena Kunze (vela). Nos esportes de grupo, como o futebol e o vôlei de quadra, não consta a presença de nenhum fardado.

Este ano, para decepção do chefe branco de Brasília, foi baixo o “Alto Rendimento” dos atletas egressos das Forças Armadas. Melhor assim.

Sobre Solda

Luiz Antonio Solda, Itararé (SP), 1952. Cartunista, poeta, publicitário reformado, fundador da Academia Paranaense de Letraset, nefelibata, taquifágico, soníloquo e taxidermista nas horas de folga. Há mais de 50 anos tenta viver em Curitiba. É autor do pleonasmo "Se não for divertido não tem graça". Contato: luizsolda@uol.com.br
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