O escritor de ficção científica Isaac Asimov disse, durante entrevista em 1988, que o processo de ensino-aprendizagem ideal é aquele que foca no interesse individual do aluno.
Mas não seria um problema se a criança quisesse aprender apenas sobre beisebol? Eis a resposta de Asimov: “Tudo bem. Quanto mais você aprende sobre beisebol, mais pode se interessar por matemática ao tentar entender as médias estatísticas de rebatidas. Pode até mesmo acabar mais interessado em matemática do que em beisebol”.
Esse é o princípio da Escola da Ponte, que é pública e foi fundada em 1976, em Santo Tirso (Portugal). Lá, não há salas de aula e classes separadas por idade. Pequenas turmas são formadas a partir dos interesses dos estudantes, que são incentivados a buscar conhecimento de forma autônoma através de pesquisas. A ideia é ensinar a aprender, partindo das aptidões individuais das crianças.
Quem gosta de marcenaria acaba pesquisando geometria para criar móveis mais estruturados e, depois, se interessa por arte, para implementar inovações estéticas.
A reforma do ensino médio no Brasil tenta seguir essa ideia, com itinerários de aprendizagem e disciplinas optativas escolhidas pelos jovens. Mas a teoria esbarra nas péssimas condições da educação no país.
Tal mudança exige contratar professores, investir na especialização da categoria, melhorar salários, oferecer espaços físicos com equipamentos para oficinas e laboratórios etc. Daí as reclamações, justas, de pais, alunos, professores e gestores.
O problema é que o Brasil inverte prioridades. Segundo relatório da OCDE, aqui, o gasto anual por aluno no ensino superior é de U$ 14.202 e, no ensino fundamental e médio, de U$ 3.866. Já nos países desenvolvidos, gasta-se em média U$ 16.100 e U$ 9.300, respectivamente.
De modo insensato, queremos colher frutos de uma árvore sem raízes. Talvez devamos cuidar primeiro da semente, que é estimular a paixão pelo conhecimento, através das aptidões dos alunos, desde cedo.