Eu tive um sonho igual ao Mártin Burguer King

Diário, ontem foi um dia puxado. Trabalhei uma hora inteira.

É que eu fui na abertura de treco da Associação Paulista de Supermercados. Como eu sempre faço agora, pra animar os amigos e botar medo no inimigo, ameacei com um golpe, dizendo que “podemos ter eleições conturbadas”.

Aquela frase ficou na minha cabeça, Diário. E, de noite, eu tive um sonho. Isso mesmo, Diário, como disse um cara aí, que acho que se chama Mártir Burguer King, “eu tive um sonho”. Tudo acontece no dia das eleições. No final da tarde, quando começam a sair os primeiros números que mostram o Nove Dedos em primeiro lugar, meu pessoal começa a agir.

Começa pela turma de Rio das Pedras. Junto com outras milícias, todas bem armadas (porque eu liberei geral), cercam o STF e começam a dar tiros nas janelas. Então vem a Polícia Militar. Mas, em vez de combater os caras, ela se junta a eles e também passam a atirar.

Aí chega o Exército, com seus tanques fumacentos. Só que ele não combate a balbúrdia. Pelo contrário. Arrebenta tudo. Nas cidades, acontece mais ou menos a mesma coisa. É uma tremenda tiraiada pra tudo quanto é lado.

No Rio de Janeiro, invadem a Globo e o Jornal Nacional passa a ser apresentado pelo Augusto Nunes e pela Ana Paula do Vôlei. Em São Paulo, Janaína Paschoal e Carla Zambelli se estapeiam no meio da avenida Paulista, cada uma dizendo que é ela quem vai liderar o golpe.

Enquanto isso, meus apoiadores falam em todas as mídias que a eleição foi roubada. É Ratinho, é Silvio Santos, é bispo Macedo, é Jovem Pan, é todo mundo dizendo que houve fraude e que o comunismo não pode vencer no Brasil, senão vão botar homens de rua morando na sua casa, seus filhos vão virar gays e todo mundo vai ter que tomar vacinas com chips de controle mental.

O Dudu entra no Superior Tribunal Eleitoral à frente de um pelotão usando camisa da CBF e quebra os computadores. O estranho é que, no meu sonho, em vez de porrete, ele usa uma banana gigante.

O Carluxo, vestindo uns chifres de búfalo e um rabo de pavão, comanda a invasão ao Congresso por um monte de marombados de camiseta regata. O Flavinho vai passando pelos locais de conflito e fornecendo chocolate (recheado de laranja) para as nossas Forças Armadas.

Em Brasília, o Alexandre de Moraes, o Fachin e o Barrozo estão ajoelhados à minha frente. Eu uso uma coroa e ouro. Então eu pego minha espada de nióbio, miro nos pescoços deles e… acordo. É que o maldito despertador tocou, porque hoje eu vou continuar minha campanha eleitoral em Sergipe e tinha que pegar o avião cedinho.

Aí, só de raiva, peguei o revólver que eu guardo embaixo do travesseiro e dei umas boas coronhadas nele. O chão do quarto ficou cheio de porca, parafuso e mola. Amanhã esse despertador comunista não estraga meu sonho. O que ele pensa que é? Uma urna?

José Roberto Torero

Sobre Solda

Luiz Antonio Solda, Itararé (SP), 1952. Cartunista, poeta, publicitário reformado, fundador da Academia Paranaense de Letraset, nefelibata, taquifágico, soníloquo e taxidermista nas horas de folga. Há mais de 50 anos tenta viver em Curitiba. É autor do pleonasmo "Se não for divertido não tem graça". Contato: luizsolda@uol.com.br
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