Faltou alguém naquela cerimônia

Renato Mazânek é um sonhador. Mais do que isso, embora já tenha passado dos 70 e sofra alguns incômodos da idade, continua com a mente em ebulição. É um poço de ideias. Assim como ocorreu com o rádio, com a publicidade e com a televisão, que ajudou a montar em Curitiba, ultimamente tem se preocupado com Curitiba, a cidade que o acolheu menino e ele quer tão bem.

Em meados de 1998, ele enviou à Prefeitura Municipal de Curitiba uma série de propostas para melhorar a vida da cidade e dos cidadãos. Um rol de sugestões dignas de um pensador de alto calibre. Para qualificá-las registrou-as em cartório. No Cartório Ramos, o 2º Cartório de Registro de Títulos e Documentos da Capital, em 26 de junho de 1998.

Em janeiro de 2005 e em julho de 2007, renovou as sugestões. Entre elas, foi incluído, com destaque, o melhor aproveitamento dos lagos dos parques Barigui, São Lourenço e Tanguá. No do Barigui, sugeriu a instalação de uma mini-usina hidroelétrica, em convênio com a Copel, com objetivo didático e também para a produção e distribuição de energia, que poderia ser utilizada, inclusive, na iluminação do parque.

Em outros parques com queda de água, Mazânek aconselhou a movimentação de monjolos, rodas d’água e outros equipamentos semelhantes, também com objetivo didático e turístico, mas capaz de fomentar, por exemplo, uma mini tecelagem ou uma mini-serraria.

As propostas foram recebidas pela Municipalidade com alguma simpatia e ficou por isso mesmo.

Até hoje, o sonhador Renato Mazânek não recebeu nenhuma resposta.

No início deste mês, no entanto, ficou sabendo, como todos nós, através de matéria veiculada nos noticiários da TV, que a Prefeitura Municipal de Curitiba estava inaugurando uma pequena hidroelétrica no lago do Parque Barigui, com produção suficiente para iluminar o parque. A referida Central Geradora Hidroelétrica (CGH), denominada Nicolau Klüppel e que teria sido doada ao municipio pela Associação Brasileira de Pequenas Centrais Hidrelétricas (Abrapch), vai produzir energia. Mais: a produção será injetada na rede da Companhia Paranaense de Energia Elétrica (Copel), gerando créditos de energia a serem compensados pelo município. A estimativa de economia aos cofres públicos é de R$ 132 mil por ano. Mais ainda: segundo o presidente da Abrapch, a turbina poderá ser utilizada em ações de educação, demonstrando a importância da fonte hidráulica.

Tudo como Renatinho havia proposto e previsto. Só que ninguém foi capaz de sequer citar o idealizador Mazânek – para dizer o mínimo.

A secretária do Meio Ambiente creditou, sem nenhum pejo, a realização da CGH ao “caráter de inovação da cidade e do prefeito”.

“Foi um esforço de muitas mãos, um exemplo de colaboração entre o setor privado e o poder público”, disse dona Marilza Oliveira Dias, ao agradecer a equipe da Secretaria do Meio Ambiente, pelo empenho na concretização do projeto. Nenhuma referência a uma possível inspiração recebida, reiterada e reafirmada de um polaquinho da Rua Jacarezinho.

Renato Mazânek não está em busca de honra e glória. Isso ele já tem, por tudo o que fez em favor da cidade, da arte e da comunicação desta terra. De igual modo, nada tem contra o engenheiro Nicolau Klüppel, que sabe foi um dos precursores da solução do uso de lagos para captação de água para evitar enchentes, o que proporcionou a criação de parques como o do Barigui e o São Lourenço. Quer apenas e merece consideração e justiça.

Ele bem que poderia ter sido ao menos citado e convidado para a cerimônia de inauguração da mini usina que idealizara e oferecera de graça à Prefeitura já em 1998. Não acha, ó generoso e benevolente prefeito Rafael Waldomiro?

Algo semelhante já acontecera com a implantação de mini out-doors nos pontos de ônibus, gerando recursos para a manutenção dos locais. Também fora sugerido por Mazânek nos idos de 1998.

Algumas das outras propostas de Renato: pavimentação das ruas com pedras irregulares recobertas com asfalto; integração da Rua XV à área histórica da cidade, com a recomposição de fachadas originais; revisão geral das calçadas, constantemente afetadas por serviços de água, esgoto, luz e telefonia; obrigatoriedade da parada de ônibus junto ao meio-fio das calçadas e não quase no meio da pista, dificultando o embarque/desembarque e afetando a circulação dos demais veículos; participação de estudantes das diversas faculdades em projetos de recuperação dos rios que cortam a cidade; feiras de hortaliças e frutas apenas com a participação de produtores, afastando os revendedores/atravessadores; melhoria da integração com parte da região metropolitana da Capital, através de Treinibus, transporte que integraria linhas ferroviárias e ônibus articulados adaptados; transferência dos desfiles carnavalescos para as Ruas da Cidadania e seus salões de esportes, oferecendo mais conforto e segurança para foliões e espectadores; revisão das árvores da cidade, com a substituição das mais velhas e com risco de queda ou de afetar a rede elétrica por outras de menor porte…

Esta, no entanto, é apenas uma ínfima amostragem das centenas de ideias nascidas da inspiração de Renato Mazânek e postas à disposição da Prefeitura Municipal de dom Rafael, tão atenciosa com seus cidadãos.

Sobre Solda

Luiz Antonio Solda, Itararé (SP), 1952. Cartunista, poeta, publicitário reformado, fundador da Academia Paranaense de Letraset, nefelibata, taquifágico, soníloquo e taxidermista nas horas de folga. Há mais de 50 anos tenta viver em Curitiba. É autor do pleonasmo "Se não for divertido não tem graça". Contato: luizsolda@uol.com.br
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