O homo sapiens é uma intrincada engrenagem que articula fatores biológicos e culturais. No caso das mulheres, tal mecanismo é ainda mais claro. A opressão social que esse gênero sofreu ao longo da história surge a partir de uma necessidade imperativa oriunda da maternidade.
Além da gestação, bebês exigem cuidado integral por anos. Assim, mulheres ficavam na segurança do ambiente doméstico, enquanto homens iam para a caça ou a guerra. Em comunidades indígenas, por exemplo, tal organização ainda se verifica.
Com o desenvolvimento tecnológico, conseguimos apenas atenuar a pressão da natureza, não eliminá-la.
Segundo o IBGE, 22% das mulheres com um filho não conseguem trabalhar, ante só 0,55% dos homens na mesma situação. Ademais, elas dedicam 21,3 horas por semana ao cuidado do lar, já eles, 11,7; enquanto 96% delas cozinham e lavam a louça, 66% deles executam essas tarefas.
Pesquisas mostram que, mais do que por preconceito, a disparidade salarial entre os sexos advém do fato de que homens conseguem dedicar mais tempo ao emprego (com horas extras, viagens e finais de semana), já que não carregam o fardo da dupla jornada de trabalho delas.
Portanto, leis de cotas ou de pareamento salarial pouco contribuem para a ascensão social das mulheres.
Em vez de dar atenção excessiva a piadas machistas, à objetificação do corpo feminino no cinema, ao “fiu-fiu”, à proibição da pornografia ou à problematização do cavalheirismo, seria mais proveitoso que o feminismo direcionasse energia de modo mais pragmático para eliminar as raízes que impedem a independência financeira das mulheres.
A licença maternidade precisa ser estendida para o casal. É urgente a implementação de uma rede ampla de creches (só 36% das crianças entre 0 e 3 anos estão nelas). Empresas e órgãos públicos devem criar jornadas de trabalho mais flexíveis para as funcionárias. Além, é claro, de mudanças culturais: homens, vocês já são bem grandinhos, então por favor, lavem a louça. É o mínimo.