Em pleno recesso parlamentar e enquanto as atenções gerais são conduzidas para a Lava Jato, cresce muito um conjunto de articulações que, se consumadas, mudariam o panorama político em sua parte mais influente na vida nacional. Como maior partido e detentor dos postos mais importantes no Congresso, é natural que o PMDB e seus dirigentes estejam no centro da turbulência. Mas não só os parlamentares.
Mais do que a convenção peemedebista marcada para março, quando será eleito ou reeleito o presidente do partido, foi o próprio Michel Temer a dar oportunidade para algo como um despertar do PMDB. O longo reinado de Temer no partido deve-se, em grande medida, à sua inércia. A ninguém incomodou nesse tempo, pouco falou, o que falou não interessava, quando muito transmitia pedidos de cargos. O partido fracionou-se, deu caminho ao aventureirismo venenoso que associou Eduardo Cunha e o PSDB da Câmara, e assim agigantou a crise, para nada.
Com a hipótese de impeachment de Dilma, Temer pôs em xeque a lealdade de vice-presidente e liberou a sua ambição. Uma jogada individual cuja inabilidade o indispôs com as figuras mais relevantes do partido, tanto mais que se associou a Eduardo Cunha. Afastar Michel Temer na convenção tornou-se objetivo comum aos senadores do PMDB. Meta que satisfaz a maioria dos governadores peemedebistas, que não endossaram a ambição de Temer e há tempos se sentem desligados dele, muito desinteressado dos problemas estaduais.
No PMDB do Rio, é dado como certo que Renan Calheiros se elegeria para a presidência do partido. De fato, Renan tem base, no Congresso e em seções estaduais, para aspirar à presidência. As repórteres Marina Lima e Cristiane Jungblut noticiaram, há pouco, um acordo entre os senadores Eunício Oliveira, Romero Jucá e Renan. O primeiro assumiria a presidência do Senado ao fim do mandato de Renan, no ano que vem, e Jucá substituiria Temer agora em março. Não é tudo. Na Câmara, já em fevereiro, com auxílio do trio, Leonardo Picciani seria eleito líder da bancada. E Renan, nesse acordo? Não ficou claro. Um ministério duradouro, talvez.
A presidência do PMDB com Renan ou com Jucá daria no mesmo, quanto a uma revisão grande no PMDB e refletida para fora. Pelo que se sabe de ambos, o provável é que os governadores fossem chamados dos seus atuais limbos para o palco que tinham no partido e nas costuras federais. Resultado de tudo isso: mudança extensa na relação entre as forças políticas. Tudo isso em que sentido? No PMDB muitos falam em candidatura própria na sucessão de Dilma.
Mas não é tudo ainda. Se confirmado o afastamento de Eduardo Cunha, há também a presidência da Câmara nas cogitações que ocupam o recesso peemedebista. Sem sinais perceptíveis a respeito. O que se percebe, mesmo, é uma certa gana que tomou o PMDB dos cabelos grisalhos. Ou mais. Aliás, sobretudo pintados.
Michel Temer, consta, vai visitar vários partidos com a pregação da unidade partidária. É o mais remoto atrativo político que poderia escolher para tentar reeleger-se.
EXPLICA-SE
Os R$ 172 mil que o juiz Sérgio Moro liberou para a PF de Curitiba, com um despacho incisivo sobre a necessidade de socorrer a Lava Jato de falta de dinheiro, têm explicação diferente da consolidada. Foi um lance da PF para não perder essa importância que sobrara do milhão recebido, para uso na Lava Jato, em 2014.
As ameaças de demissão em massa na PF, em reação a um corte em sua verba que prejudicaria a Lava Jato, além de outras operações, também precisam clarear-se: o Ministério da Justiça tem mais de R$ 2 bi para gastos extraordinários, que podem suprir com folga qualquer possível necessidade da PF.
Tudo se explica: os delegados querem equiparação de vencimentos à Controladoria-Geral da União. São, porém, atividades muito diferentes e exigem formações muito específicas. Mas já começaram as ameaças à segurança na Olimpíada.
Janio de Freitas – Folha de São Paulo