© Luiz Carlos Fernandes
Ferreira Gullar, que morreu neste domingo, foi um artista completo. Gullar tinha qualidades raras, fora do normal mesmo em escritores da sua estatura, como a de teorizar com admirável capacidade não só sobre literatura, como também em outras áreas, como fez até o final, com suas crônicas semanais que traziam profundo esclarecimento sobre acontecimentos políticos e culturais. Ele foi também um dos mais completos críticos de arte – eu já ia escrever “que o pais já teve”, mas o que ele produziu analisando artes plásticas está no nível do melhor que é feito no mundo. Foi poeta, como todo mundo sabe, e neste caso ele não cabe também na medida nativa. Foi universal e o que fez se nivela aos grandes da poesia no mundo.
Gullar foi uma pessoa com quem aprendi bastante, demais mesmo, de extrema importância política também na minha vida pela muito bem fundamentada crítica que vinha fazendo há bastante tempo à esquerda, em seus aspectos históricos, vividos por ele muito de perto, e também nesta chatice cotidiana de tantas batalhas sem sentido que esse pessoal arruma até hoje para nos atrapalhar. Ele viveu bastante e intensamente e deixou tanto de bom que mesmo neste pais desmemoriado há de estar sempre presente.
Conforme soube numa notícia sobre sua morte, ele se foi com a mesma dignidade que demonstrou enquanto esteve por aqui, entre nós. Ao sentir que seu quadro de saúde iria se agravar, ele pediu à sua mulher, a também poeta Claudia Ahinsa, que não fizessem nenhuma intervenção médica. Ele iria acabar sendo entubado, mas pediu que não adiassem o desfecho inevitável. “Se você me ama, não deixe fazerem nada comigo. Me deixe ir em paz. Eu quero ir em paz”, ele pediu. E seu desejo foi atendido. Ferreira Gullar foi grande até no momento da derradeira partida. Brasil Limpeza