
Meus limites são: ao sul e a sudeste, o vale do Belém e a brisa do lago do referido parque, aprazível, sim, embora (até quando?) fétido; a oeste, o hospital psiquiátrico Bom Retiro e o cemitério municipal; ao norte e a leste, o resto do mundo – coisa que muito me interessa. Quanto ao centro da cidade, nem quero saber onde fica ou ficava. Para lá só vou em caso de extrema necessidade, ao psicanalista ou, em último caso, literalmente, ao médico legista – coisa que, ainda bem, jamais ficarei sabendo. Lá, sei que vou ter problemas com a peculiar alta densidade demográfica e automotora. Não suporto, mesmo, os estampidos estuporantes das máquinas motocíclicas e dos automóveis. Não sei como tais abusos passam impunes – são muitíssimo piores que tantos outros excessos urbestas. Em seguida vêm os alarmes e os chamados sons nos carros, parados ou em movimento; estes, aliás, de som não têm nada, mas sim de ruído, barulho, estrondo: são balbúrdias metálicas insuportáveis. Isto, sem falar na violência urbana, já assimilada pela população, como se fosse natural. A poluição visual e outras chegam a ser até simpáticas, perto dessas barbaridades. São essas y otras cositas que tornam o centro de toda merdalópole cada vez menos habitável, a não ser para os ratos, ratazanas e camundongos – nem só no centro. Ainda bem que já teremos alguns dias silenciosos, com a chegada do magnífico carnaval curitibano.
(Ewaldo Schleder, em “abaixo as motocicletas barulhentas”)