Foto sem crédito.
O nome completo, Pedro Franco Guevara y Cruz, poderia sugerir uma certa pompa, um sujeito dado a formalidades. Mas o jornalista que acaba de partir era simplesmente o Franco, um homem por demais discreto para o imenso talento com que exerceu a profissão por mais de 30 anos, quase 40.
Sincero e informal, raramente se viu o sangue espanhol subir-lhe à cabeça, apesar da testa quase sempre marcada pela tensão, esta ao que parece uma característica de pessoas muito críticas. Franco pensava muito antes de falar, e mais ainda antes de escrever. Daí que não se encontrará bobagens ditas ou escritas por ele, apenas a lembrança de boas palavras e de textos impecáveis.
Como quase todos nós, trafegou pela boemia nos anos 70. Mas, ao contrário da maioria, não abandonou a moderação no curso da noite. A leitura o atraía mais do que os bares. E tinha uma flauta e um violão, de onde arrancava umas notas para divertir – às vezes para chatear – os colegas de república.
Dos anos 80 em diante, a vida já não podia ser tão despreocupada. Franco seguiu, pelos altos e baixos que estavam reservados a todos nós dali em diante. Sempre com aquele coração enorme e com a dignidade que circunstância alguma poderia lhe tirar.
A emoção da despedida me faz errar o caminho de volta para casa, mas abre uma estrada de recordações. E então, estamos de novo numa das infindáveis tertúlias que se seguiam aos finais de tarde, quando deixávamos as redações e alguns cafés e restaurantes se enchiam de jornalistas, cada um com uma nova solução para o mundo.
Jaime Lechinski
Uma resposta a Franco, um jornalista