Bem, achei o aforismo realmente bom. Curto, redondo e certeiro, como deve ser um bom provérbio. Perdoe se aqui me estendo! Pensei que ajudaria a vida das pessoas que lessem, daria alento ao seu dia a dia e tornaria o mundo melhor. Todo autor se sente, é certo, um deus dominando tudo do alto de sua escritura. Ou, um rei distribuindo benesses. Ou, até menos, um presidente do Brasil baixando decreto-lei ou medida provisória. No meio da alegria pela frase feita, pensei: será que as pessoas vão rir de mim e me achar pretensioso e… ridículo? Como estava sozinho, vibrei. Ao mesmo tempo, pressenti a vergonha de ser desmascarado por algum sabido de plantão: “Ah, essa é do Millôr!” Por isso, nunca a publiquei.
Ela se espalhou pelo mundo todo, boca a boca. Já faz muito tempo que a fiz e ela virou frase banal, carne de vaca, no meio de milhares de outras banais que povoam almanaques, agendas, livros de auto-ajuda, cartões de Natal e Ano-Novo e meus livros. Dessas que somem num piscar de olhos. A minha é muito citada, todavia sem força nenhuma. Atribuem até a outro autor como aconteceu com muitas outras. Modéstia à parte! Essa nunca surtiu o efeito que eu esperava: aquela coisa definitiva e retumbante, que bate na cabeça das pessoas e ilumina.
E as faz tomarem consciência imediata da verdade contida nela. Modéstia bem à parte! Bem, o tempo passou bastante. Ainda assim tenho certo receio de revelar a frase e ser acusado de farsante e impostor. E corar de vergonha! Em todo caso, vou dizê-la para me penitenciar e, vá que seja, te dar força e alegria. Duvido, no entanto, que ela faça pelo menos cócegas no cérebro e te faça vibrar e se iluminar. A frase? Ah, é… “Amai-vos uns aos outros” Por que está rindo?
*Rui Werneck de Capistrano é frasista de A a Z.