Fringe – As veias abertas do teatro

Paulo Joséobserva atuação dos atores de Murro,
todosparanaenses. Foto de Marcelo Elias
Ensaio aberto deMurro em Ponta de Faca é opção diferente neste Festival, com direção de PauloJosé.  Se muitas peças têm pré-estreianacional no Festival de Curitiba, Murro em Ponta de Faca (confira o serviçocompleto) dá um passo além e mostra um pouco do processo de criação ao público,com ensaios abertos a partir de hoje. A peça é um clássico do teatro político,escrita por Augusto Boal e dirigida pelo ator e diretor Paulo José em 1978. Aatuação naquele ano foi da companhia de Othon Bastos. 
Mais de 30 anosdepois, Paulo José retoma o espetáculo em homenagem ao amigo, morto em 2009 ecom quem trabalhou no Teatro de Arena de São Paulo. “Éramos muito íntimos”,conta. “Ele prezava muito esse texto. Montei quando ele estava no exílio, e émuito emocionante retomar, porque eu contava a ele o que estava acontecendo portelefone, mas ele não podia ver. Quando voltou ao Brasil, a peça tinha saído decartaz”, rememora Paulo. 
O convite pararetornar a Murro… veio da atriz paranaense Nena Inoue. A ideia surgiu de umaleitura dramática do texto de Boal, dentro de um projeto de resgate de obrasdos anos 70. “Era uma pesquisa sobre o período da ditadura, período que foi umdesastre e hoje é tratado como se não tivesse acontecido”, ela disse ementrevista à Gazeta do Povo. 
Após vencer oreceio inicial (“pensei que ele não iria nem olhar para a nossa cara”), Nenapropôs o trabalho e Paulo José topou. Como só começaram os ensaios em meados defevereiro, decidiram trazer a peça ao Fringe no formato de ensaio aberto, porreceio de não terminar a tempo. Ela está praticamente pronta, mas de qualquerforma o público deverá ver uma ou outra intervenção do diretor entre as falasdos atores, todos paranaenses (Gabriel Gorosito, Laura Haddad, Erica Migon,Sidy Correa, Abilio Ramos e Nena Inoue).
“O público adoraver como as coisas são feitas, aplaude quando o ator erra em cena. E queremoscompartilhar um pouco do processo de criação”, diz Nena. Ela conta que sempretenta abrir ensaios gerais para o público em seu Espaço Cênico, o que jáocorria quando hospedou o Ateliê de Criação Teatral (ACT).
“Acho importantever diretor e ator interferirem no espetáculo, mas isso pode acontecer ou não,depende do ensaio”, completa. “Tem ensaio que começa com a embocadura errada”,diz Paulo José. O público, claro, vai torcer para que isso aconteça e poder verum diretor desse calibre em ação.
Adaptação
Em Murro…, oretrato da vida dos exilados políticos brasileiros foi feito com bom humor porBoal, ele próprio obrigado a sair do país durante vários anos. De volta aoBrasil, o dramaturgo fundou o Teatro do Oprimido, no Rio de Janeiro,trabalhando com atores e não atores e fundando uma corrente inspirada em PauloFreire que fez escola pelo mundo. 
Para a montagemdeste ano, Paulo fez poucas adaptações. Um exemplo é um discurso de Pinochetouvido pelo rádio durante a peça. E a canção “Murro em Ponta de Faca”, escritapor Chico Buarque em parceria com Augusto Boal e nunca gravada, foi substituídapela “Canção do Subdesenvolvido” (de Carlos Lyra e Chico de Assis). A troca foinecessária porque ninguém lembra mais da melodia, apesar de que Chico, ao ouvirum trecho da letra (“Não sei se fujo ou persigo”), teria dito: “Isso parece coisaminha”.
Em ação 
Depois de abrir oensaio ao público em Curitiba, Murro em Ponta de Faca tem estreia no dia 15 deabril no Sesc Copacabana, onde fica até 8 de maio. 
Paulo José tambématua na nova novela das 19 horas da Rede Globo, Morde e Assopra. Depois de suainvestida no cinema intimista de Insolação, de Felipe Hirsch e Daniela Thomas,fez O Palhaço, de Selton Mello, com estreia prevista para maio. E diz estar abertopara novos projetos da Sutil. “Se me chamarem, estou às ordens.” 
Serviço:
Confira aprogramação da Mostra Principal 2011
do Festival deCuritiba
http://www.festivaldecuritiba.com.br/

Sobre Solda

Luiz Antonio Solda, Itararé (SP), 1952. Cartunista, poeta, publicitário reformado, fundador da Academia Paranaense de Letraset, nefelibata, taquifágico, soníloquo e taxidermista nas horas de folga. Há mais de 50 anos tenta viver em Curitiba. É autor do pleonasmo "Se não for divertido não tem graça". Contato: luizsolda@uol.com.br
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