Gazeta de Alagoas

Foto de Fernando Angulo.

Em entrevista exclusiva à Gazeta, o jornalista e escritor curitibano Toninho Vaz, autor das biografias dos poetas Paulo Leminski e Torquato Neto, fala sobre o trabalho de investigar (e contar) a trajetória de personagens biografáveis, da sua relação de amizade com Leminski e da mais sua recente empreitada, um livro sobre o “rei do cinema”, o cearense Luiz Severiano Ribeiro, que chega ao marcado em novembro, pela Record.

Janayna Ávila, repórter

1 — Você escreveu as biografias de dois grandes poetas brasileiros, o Leminski e o Torquato Neto. Como foi a experiência de retratar personalidades tão particulares e, ao mesmo tempo, tão polêmicas?

Não foi fácil. Ambos receberam ainda em vida o rótulo de malditos, muito em função da trajetória atribulada que levaram, permeada de contestações e posturas politicamente incorretas. Como bem dizia Waly Salomão, amigo de ambos, eles eram uma convergência de contradições. Ao mesmo tempo é fascinante trabalhar com esse material. Eu costumo destacar, quando faço uma dedicatória para um novo leitor: “aqui poesias e histórias de um autêntico”, definição que cabe aos dois poetas.

2 — Para ser fiel ao perfil do biografado é preciso ter convivido com ele, já que você recorreu não apenas a depoimentos, mas também à memória dos momentos vividos ao lado deles?

Não é necessário ter conhecido o personagem para fazer um trabalho correto. No caso do Leminski, minha amizade com ele ajudou bastante na construção do perfil psicológico e nos detalhes. Mas, como eu nunca conversei com o Torquato, tive que fazer mais pesquisas e entrevistas. Em ambos os casos, porém, a pesquisa não era exaustiva, se formos considerar que um viveu 44 (Leminski) e o outro apenas 28 anos. Ainda assim, para cada livro fiz mais de 70 entrevistas.

3 —
Nas duas biografias você abre caminhos para estudos e análises das obras dos dois poetas, algo com o qual muitos biógrafos não se preocupam, embora digam que essa é tarefa para os críticos. Mas contribuir para esse interesse foi uma conseqüência ou você planejou alcançar esse resultado?

Sim, eu sabia que seria uma contribuição oferecer estudos e análises das obras destes poetas. Tentei, em alguns momentos, revelar o pensamento deles sobre o fazer literário, a prática do poema ou as obras referenciais, tanto quanto as influências marcantes, do ponto de vista religioso ou político. Era uma maneira de mostrar a vida deles por dentro, ou seja, pela obra. Acho mesmo que consegui oferecer ao leitor mais do que o trivial. No caso do Leminski, não me foi difícil, pois eu sempre o considerei meu professor, embora informal, nas mesas de botequins. Eu era um garoto tacanha, problemático, quando conheci o Paulo – era assim que eu o chamava – e ele foi fundamental no meu processo de vida. Foi ele quem apontou as minhas qualidades. Ele disse (e eu confiava nas avaliações dele) que eu tinha talento para o texto, “qualidades acima da média, mano”, foi a expressão que ele usou. Isso bate forte num garoto de 20 anos. Resultado, passei a ganhar a vida, desde então, fazendo o que mais gosto: escrever.

4 — Quais as três personalidades que você gostaria muito de biografar? Por quais motivos?

Mesmo que eu soubesse, não diria. É como você entregar a pauta para uma redação concorrente. Conheço mais de dez jornalistas, com o perfil de biógrafos, que procuram por uma boa idéia neste exato momento.

5 — E quem você não gostaria de biografar, definitivamente?

Jader Barbalho, Carlos Arthur Nuszman e Preta Gil. Sem comentários.

(versão resumida da entrevista publicada anteontem, 10 de outubro)

Sobre Solda

Luiz Antonio Solda, Itararé (SP), 1952. Cartunista, poeta, publicitário reformado, fundador da Academia Paranaense de Letraset, nefelibata, taquifágico, soníloquo e taxidermista nas horas de folga. Há mais de 50 anos tenta viver em Curitiba. É autor do pleonasmo "Se não for divertido não tem graça". Contato: luizsolda@uol.com.br
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