Foto de Fernando Angulo.
Em entrevista exclusiva à Gazeta, o jornalista e escritor curitibano Toninho Vaz, autor das biografias dos poetas Paulo Leminski e Torquato Neto, fala sobre o trabalho de investigar (e contar) a trajetória de personagens biografáveis, da sua relação de amizade com Leminski e da mais sua recente empreitada, um livro sobre o “rei do cinema”, o cearense Luiz Severiano Ribeiro, que chega ao marcado em novembro, pela Record.
3 — Nas duas biografias você abre caminhos para estudos e análises das obras dos dois poetas, algo com o qual muitos biógrafos não se preocupam, embora digam que essa é tarefa para os críticos. Mas contribuir para esse interesse foi uma conseqüência ou você planejou alcançar esse resultado? Sim, eu sabia que seria uma contribuição oferecer estudos e análises das obras destes poetas. Tentei, em alguns momentos, revelar o pensamento deles sobre o fazer literário, a prática do poema ou as obras referenciais, tanto quanto as influências marcantes, do ponto de vista religioso ou político. Era uma maneira de mostrar a vida deles por dentro, ou seja, pela obra. Acho mesmo que consegui oferecer ao leitor mais do que o trivial. No caso do Leminski, não me foi difícil, pois eu sempre o considerei meu professor, embora informal, nas mesas de botequins. Eu era um garoto tacanha, problemático, quando conheci o Paulo – era assim que eu o chamava – e ele foi fundamental no meu processo de vida. Foi ele quem apontou as minhas qualidades. Ele disse (e eu confiava nas avaliações dele) que eu tinha talento para o texto, “qualidades acima da média, mano”, foi a expressão que ele usou. Isso bate forte num garoto de 20 anos. Resultado, passei a ganhar a vida, desde então, fazendo o que mais gosto: escrever.
5 — E quem você não gostaria de biografar, definitivamente?
Jader Barbalho, Carlos Arthur Nuszman e Preta Gil. Sem comentários.
(versão resumida da entrevista publicada anteontem, 10 de outubro)
Janayna Ávila, repórter
1 — Você escreveu as biografias de dois grandes poetas brasileiros, o Leminski e o Torquato Neto. Como foi a experiência de retratar personalidades tão particulares e, ao mesmo tempo, tão polêmicas?
Não foi fácil. Ambos receberam ainda em vida o rótulo de malditos, muito em função da trajetória atribulada que levaram, permeada de contestações e posturas politicamente incorretas. Como bem dizia Waly Salomão, amigo de ambos, eles eram uma convergência de contradições. Ao mesmo tempo é fascinante trabalhar com esse material. Eu costumo destacar, quando faço uma dedicatória para um novo leitor: “aqui poesias e histórias de um autêntico”, definição que cabe aos dois poetas. 2 — Para ser fiel ao perfil do biografado é preciso ter convivido com ele, já que você recorreu não apenas a depoimentos, mas também à memória dos momentos vividos ao lado deles? Não é necessário ter conhecido o personagem para fazer um trabalho correto. No caso do Leminski, minha amizade com ele ajudou bastante na construção do perfil psicológico e nos detalhes. Mas, como eu nunca conversei com o Torquato, tive que fazer mais pesquisas e entrevistas. Em ambos os casos, porém, a pesquisa não era exaustiva, se formos considerar que um viveu 44 (Leminski) e o outro apenas 28 anos. Ainda assim, para cada livro fiz mais de 70 entrevistas.3 — Nas duas biografias você abre caminhos para estudos e análises das obras dos dois poetas, algo com o qual muitos biógrafos não se preocupam, embora digam que essa é tarefa para os críticos. Mas contribuir para esse interesse foi uma conseqüência ou você planejou alcançar esse resultado? Sim, eu sabia que seria uma contribuição oferecer estudos e análises das obras destes poetas. Tentei, em alguns momentos, revelar o pensamento deles sobre o fazer literário, a prática do poema ou as obras referenciais, tanto quanto as influências marcantes, do ponto de vista religioso ou político. Era uma maneira de mostrar a vida deles por dentro, ou seja, pela obra. Acho mesmo que consegui oferecer ao leitor mais do que o trivial. No caso do Leminski, não me foi difícil, pois eu sempre o considerei meu professor, embora informal, nas mesas de botequins. Eu era um garoto tacanha, problemático, quando conheci o Paulo – era assim que eu o chamava – e ele foi fundamental no meu processo de vida. Foi ele quem apontou as minhas qualidades. Ele disse (e eu confiava nas avaliações dele) que eu tinha talento para o texto, “qualidades acima da média, mano”, foi a expressão que ele usou. Isso bate forte num garoto de 20 anos. Resultado, passei a ganhar a vida, desde então, fazendo o que mais gosto: escrever.
4 — Quais as três personalidades que você gostaria muito de biografar? Por quais motivos?
Mesmo que eu soubesse, não diria. É como você entregar a pauta para uma redação concorrente. Conheço mais de dez jornalistas, com o perfil de biógrafos, que procuram por uma boa idéia neste exato momento.5 — E quem você não gostaria de biografar, definitivamente?
Jader Barbalho, Carlos Arthur Nuszman e Preta Gil. Sem comentários.
(versão resumida da entrevista publicada anteontem, 10 de outubro)