Gilmar Mendes, um insucesso de público

Nos anos 70 e 80 havia em São Paulo um jornalista que era temido pela sua destruidora capacidade de fazer colar apelidos e qualificações terrivelmente irônicas em personalidades da cultura e da política. Telmo Martino tinha uma coluna no Jornal da Tarde. Era muito bem informado, escrevia bem, muito bem mesmo, e não perdoava ninguém. Claro que sua coluna era muito lida e isso num jornal que tinha uma qualidade de texto e gráfica que nenhum outro ultrapassou no Brasil. Naqueles tempos não havia jeito de deixar de pegar o Jornal da Tarde para saber quem tinha sido a vítima do Telmo Martino naquele dia. Mas isso é coisa bastante antiga. Meninos, eu vi. E vocês jamais verão coisa igual. O Jornal da Tarde fechou, Telmo Martino morreu em 2013, parece que no Brasil só vai ficando o que não presta.

E falando nisso, foi por causa da entrevista do ministro Gilmar Mendes ao programa Roda Viva, nesta segunda-feira, que me lembrei do Telmo Martino. Fiz questão de perder. Esta figura que Joaquim Barbosa acusava de ter capangas no Mato Grosso desgastou-se demais, de modo que que sua opinião deixou de fazer sentido. Afinal, quando Gilmar Mendes expressa uma opinião jurídica, fala algo sobre política ou trata de qualquer outro assunto, quem vai saber se ele está mesmo falando sério ou simplesmente fazendo jogo sujo? Acho que nem ele sabe mais. De tanto que troca de convicção, até em sessão do STF acaba dando voto contrário à decisões suas do passado.

Então, por excesso de exposição e carência de seriedade pessoal e como juiz, Gilmar Mendes deixou de ser uma figura que mereça a atenção. E pelo que eu soube da audiência do programa da TV Cultura, está mesmo muito feia a saturação do cara-de-pau. Foi daí que Telmo Martino me veio à memória. Foi um fiasco a audiência da entrevista com o ministro do STF. Com uma média de 0,8% no Ibope, o programa ficou em sexto lugar na TV aberta, ficando na rabeira até da Band e da Rede TV. É provável que isso faça os jornalistas pararem de botar o microfone na boca do Gilmar. Colegas, muito cuidado: ele espanta a audiência.

Pois na época em que Telmo Martino era um sucesso entre os leitores do Jornal da Tarde uma conhecida apresentadora de televisão recebeu dele um apelido fatal, que acabou pegando. A vítima do fino esculacho foi Marília Gabriela, que vivia estreando programa novo porque nenhum pegava no gosto do público. É capaz dela ter trocado mais de emissora que o Ciro Gomes de partido. Com a dificuldade de Marília Gabriela conquistar audiência, Telmo Martino apelidou-a de “mulher-traço”. Vejo que temos agora outro fenômeno de falta de telespectadores. O ministro Gilmar Mendes é o “homem-traço” da atualidade.

Sobre Solda

Luiz Antonio Solda, Itararé (SP), 1952. Cartunista, poeta, publicitário reformado, fundador da Academia Paranaense de Letraset, nefelibata, taquifágico, soníloquo e taxidermista nas horas de folga. Há mais de 50 anos tenta viver em Curitiba. É autor do pleonasmo "Se não for divertido não tem graça". Contato: luizsolda@uol.com.br
Esta entrada foi publicada em José Pires - Brasil Limpeza, Sem categoria. Adicione o link permanente aos seus favoritos.
Compartilhe Facebook Twitter

Deixe um comentário

Esse site utiliza o Akismet para reduzir spam. Aprenda como seus dados de comentários são processados.