Gip! Gip! Nheco! Nheco!: A Nova Antologia Do Pasquim.

A história reservou ao jornal “O Pasquim” ao menos dois papéis: um de resistência e crítica ao regime militar brasileiro (1964-1985); outro por revelar e projetar um grupo extremamemte criativo de escritores e desenhistas. As duas características estão presentes em “Gip! Gip! Nheco! Nheco!”, a nova antologia do Pasquim (Desiderata, R$ 34,80).

As 160 páginas da obra mostram trabalhos de Henfil, Claudius, Miguel Paiva (o “pai” da Radical Chic). O destaque, no entanto, é para o escritor Ivan Lessa e o desenhista Redi. E por um bom motivo. A maior parte da coletânea é dedicada à coluna criada por eles para “O Pasquim”, a “Gip gip nheco nheco” (às vezes só chamada de “gip gip”). A coluna foi publicada entre 1971 e 1981. A edição da Desiderata compilou material até 1977.

A alma da coluna eram os textos de Lessa, escritor que se auto-exilou em Londres em 1978 (e pode ser lido regularmente no site da BBC Brasil). Ele tecia críticas afiadíssimas à situação do brasileiro durante a ditadura. Funcionava como uma história em quadrinhos, em que cada quadrinho apresentava uma frase ilustrada. Algumas:

Desenvolvimento no nordeste é quando um garoto consegue fazer 10 anos, 1,20m de altura e 35 kg de peso.

Se todas as disposições em contrário fossem revogadas, todas as disposições a favor continuariam enchendo o saco.

Os jovens brasileiros, quando crescem e se formam, viram críticos articulados da progressiva decadência de nosso ensino superior.

3 em cada 5 índios são, cada vez mais, 1 só. Os outros 2 também.

Frases ácidas, críticas, não poupavam nada e ninguém, nem as aparentemente inocentes figurinhas da série “Amar é…”, cult entre os anos 70 e 80, alvo recorrente de Ivan Lessa. Coube a Redi (como assinava Sylvio Redinger, falecido em 2004) a difícil tarefa de ilustrar os pensamentos do escritor. O lançamento de coletâneas de “O Pasquim” virou a galinha dos ovos de ouro da Desiderata. A editora publicou o primeiro volume no começo do ano passado (“O Pasquim: Antologia – 1969-1971). Volta à carga agora com este “Gip! Gip! Nheco! Nheco!”. As altas vendas indicam que outras obras virão. (Folha de SP)

Sobre Solda

Luiz Antonio Solda, Itararé (SP), 1952. Cartunista, poeta, publicitário reformado, fundador da Academia Paranaense de Letraset, nefelibata, taquifágico, soníloquo e taxidermista nas horas de folga. Há mais de 50 anos tenta viver em Curitiba. É autor do pleonasmo "Se não for divertido não tem graça". Contato: luizsolda@uol.com.br
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