As 160 páginas da obra mostram trabalhos de Henfil, Claudius, Miguel Paiva (o “pai” da Radical Chic). O destaque, no entanto, é para o escritor Ivan Lessa e o desenhista Redi. E por um bom motivo. A maior parte da coletânea é dedicada à coluna criada por eles para “O Pasquim”, a “Gip gip nheco nheco” (às vezes só chamada de “gip gip”). A coluna foi publicada entre 1971 e 1981. A edição da Desiderata compilou material até 1977.
A alma da coluna eram os textos de Lessa, escritor que se auto-exilou em Londres em 1978 (e pode ser lido regularmente no site da BBC Brasil). Ele tecia críticas afiadíssimas à situação do brasileiro durante a ditadura. Funcionava como uma história em quadrinhos, em que cada quadrinho apresentava uma frase ilustrada. Algumas:
Desenvolvimento no nordeste é quando um garoto consegue fazer 10 anos, 1,20m de altura e 35 kg de peso.
Se todas as disposições em contrário fossem revogadas, todas as disposições a favor continuariam enchendo o saco.
Os jovens brasileiros, quando crescem e se formam, viram críticos articulados da progressiva decadência de nosso ensino superior.
3 em cada 5 índios são, cada vez mais, 1 só. Os outros 2 também.
Frases ácidas, críticas, não poupavam nada e ninguém, nem as aparentemente inocentes figurinhas da série “Amar é…”, cult entre os anos 70 e 80, alvo recorrente de Ivan Lessa. Coube a Redi (como assinava Sylvio Redinger, falecido em 2004) a difícil tarefa de ilustrar os pensamentos do escritor. O lançamento de coletâneas de “O Pasquim” virou a galinha dos ovos de ouro da Desiderata. A editora publicou o primeiro volume no começo do ano passado (“O Pasquim: Antologia – 1969-1971). Volta à carga agora com este “Gip! Gip! Nheco! Nheco!”. As altas vendas indicam que outras obras virão. (Folha de SP)
2 respostas a Gip! Gip! Nheco! Nheco!: A Nova Antologia Do Pasquim.