Segundo o dicionário Houaiss, o sufixo “eco” funciona como diminutivo que adiciona quase sempre um valor depreciativo às palavras.
A definição ajuda não só a entender a língua portuguesa, mas também a desvendar como a palavra “pixuleco” virou sinônimo de propina nos autos da Operação Lava Jato.
O radical da palavra não tem registro oficial, mas aparece na literatura brasileira como sinônimo de “dinheiro miúdo e roto”. O escritor e jornalista João Antônio (1937-1996), que se notabilizou por retratar o cotidiano da malandragem, escreveu sobre o”pixulé” em diversas histórias.
“Comecei por baixo, como todo sofredor começa. Servindo para um, mais malandro, ganhar”, diz um personagem em um de seus contos, que começa a vida como engraxate e termina assaltante.
O conto segue com a lembrança de um episódio em que o cliente se levanta e escorrega uma nota como pagamento. “Humilde, meio encolhido, eu recolhia a groja magra. Tudo pixulé, só caraminguás, nota de dois ou cinco cruzeiros. Mas eu levantava os olhos e agradecia.”
O “pixuleco” da Lava Jato não é groja magra. Segundo o empreiteiro Ricardo Pessoa, era assim que o ex-tesoureiro do PT João Vaccari Neto se referia à propina que recolhia das empresas que tinham contratos com a Petrobras.
Segundo Pessoa, sempre que sua empresa, a UTC, fechava um negócio com a estatal, Vaccari aparecia em seguida para buscar o “pixuleco”, 1% sobre o valor do contrato. Vaccari teria recebido quase R$ 4 milhões em “pixulecos” de Pessoa, que fez acordo de delação premiada.
Na crônica recente da política brasileira, é frequente o uso de eufemismos para falar de propina. Pessoas que iam ao Banco Rural em Brasília buscar o dinheiro do mensalão petista se apresentavam dizendo que estavam ali para “pegar uma encomenda”. O empresário Carlinhos Cachoeira chamava de “assistência social” os pagamentos que fazia a funcionários públicos.
Folha de São Paulo