Por quatro horas e meia, ela ficou com o carro parado em frente ao prédio do namorado, aguardando a saída dele para atirar no rapaz. Filha de policiais militares – o capitão Mário Luiz Fonseca, do Regimento de Polícia Montada, e a soldado Silvana Gabardo, da Central de Operações da Polícia Militar (Copom) – suspeita-se que ela estivesse portando uma pistola calibre ponto 40, da corporação. Depois de furar o bloqueio policial no local e fugir, ela se entregou.
Pouco antes das 16h, Emanuele parou o Siena preto placa APA-8216, no meio da rua, bem em frente ao prédio de seu namorado, o Edifício Comendador Vasconcelos, entre a Rua Voluntários da Pátria e a Alameda Cabral. Telefonou para ele, pedindo que descesse, e ficou aguardando.
Guardas municipais perceberam a ação de Emanuele através das câmeras de segurança instaladas na praça e se dirigiram para lá. Policiais do 12.º Batalhão, que cobrem aquela área, também foram acionados. Com a aproximação policial, de dentro do carro, a jovem atirou contra o chão.
Depois disso, apontou a arma contra sua própria cabeça, ameaçando disparar.Isolamento
Guardas e policiais rapidamente isolaram cerca de 70% da Praça Osório, para evitar que a jovem acertasse alguém, caso atirasse novamente. Uma ambulância do Siate ficou de prontidão. A partir disso, negociadores do Comando de Operações Especiais (COE), da Polícia de Choque, foram chamados.
Junto com a mãe de Emanuele, o capitão Sampaio, do Coe, ficou por mais de quatro horas negociando com a jovem. Ela fez algumas exigências, a principal delas, a presença do namorado, morador do 10.º andar do edifício. Ele acompanhava tudo de longe, mas os negociadores acharam por bem não colocá-lo diante dela, sob risco do rapaz ser ferido a tiros.
Depois de muita histeria e várias manobras da estagiária com o Siena, às 18h45, policiais colocaram uma garrafa de água em cima do capô, mas ela não pegou. Às 19h30, ela saiu do carro com a arma apontada para seu pescoço.
Andou ao redor do carro e, dez minutos depois, retornou ao Siena.Passados quatro minutos, novo susto. Ela saiu do carro gritando muito, sempre com a arma na mão. Policiais se assustaram e se jogaram ao chão. Em menos de dois minutos, a praça passou por um isolamento ainda maior. Ficou com cerca de 90% bloqueada.
Bloqueio
Às 20h25, Emanuele deu mais uma ré no carro, telefonou para a mãe e a irmã, e decidiu furar o bloqueio da Polícia Militar, na intercessão com a Alameda Cabral. Pouco depois de meia hora, a PM confirma que a jovem se entregou, mas não revelou detalhes sobre o desfecho. Ela teria se encontrado com a mãe, sem a presença de policiais,
que a levou diretamente para internamento numa clínica, não identificada até o momento.Pessoas foram retiradas protegidas pela PM
O bloqueio montado para evitar a fuga de Emanuele era composto por apenas duas viaturas do 12.º Batalhão,
um carro atravessado do lado direito da rua, e uma moto, encostada junto ao meio-fio.Diante do espaço entre os dois veículos, Emanuele optou por derrubar a moto, bater em outras duas viaturas na Alameda Cabral – que não bloqueavam a rua – e seguir adiante. Virou à esquerda na Alameda Doutor Carlos de Carvalho e subiu a Rua Visconde de Nácar, em sentido ignorado.
Policiais saíram em seguida e a perseguiram por um trecho, até que o comandante da Polícia de Choque, o major Chehade Elias Geha, optou por deixar que apenas duas viaturas descaracterizadas, do serviço reservado do Batalhão de Choque, a acompanhassem. Mas numa determinada altura, os policiais a perderam de vista.
Entrevista
Apesar de Emanuele conseguir escapar muito facilmente do cerco policial montado para contê-la, o major Chehade afirmou que “tudo que podíamos fazer foi feito”. Em rápida entrevista, ele também não confirmou se a pistola que a jovem usava pertencia à corporação.
“Da distância que estávamos não era possível fazer essa verificação.”Emanuele pode não ficar presa, mas deverá ser indiciada em inquérito policial por porte ilegal e disparo de arma de fogo. Seus pais também poderão responder a procedimento interno na PM, para verificar se a pistola que ela usava pertencia ou não à corporação, e como foi parar nas mãos de alguém não habilitado a manuseá-la.
Transtorno geral
Grupos de vários moradores – de crianças de colo a idosos, e até animais de estimação – se aglomeraram na Boca Maldita, esperando o desfecho da ocorrência para poder descansar em casa.
Prejuízo
Alguns comerciantes terão grande prejuízo pelas horas que ficaram sem atender o público.
O dono de um café calculou que deixou de vender cerca de R$ 600,00 ou R$ 700,00 durante as mais de quatro horas que ficou sem clientes.Segunda vez