Para a natureza, eles não são descartáveis
No começo do ano, ao dar meu expediente matinal em certo quiosque de Ipanema, calculei que, a uma média de 300 cocos servidos diariamente em cada um dos 300 quiosques da orla atlântica do Rio, estávamos contribuindo com 90.000 cocos por dia para o prazer da humanidade. Supondo que tal média se mantivesse pelo resto do ano —e este verão, pelo visto, tende a se eternizar—, seriam 32.850.000 cocos por ano. Tudo bem. Mas seriam também 32.850.000 inúteis, degradantes e assassinos canudos de plástico. Tudo mal.
Chamar os canudos de “descartáveis” é uma ironia contra nós mesmos. Nós os descartamos —ao acabar de usá-los, costumamos deixá-los no próprio coco ou os largamos com displicência sobre a mesa ou no chão. Mas a natureza levará séculos para se livrar deles, no que terão tempo de sobra para contaminar rios e mares e ameaçar espécies marinhas ou fluviais. Para a natureza, eles não são “descartáveis”.
Os americanos, que despejam 500 milhões de canudos por dia no ambiente, começam a se perguntar quem lucra com isso, exceto seus fabricantes. Os quais impuseram aos garçons e empregados de bares e lanchonetes a cultura de enfiar —sem perguntar— um canudo em qualquer milk-shake ou lata de refrigerante servido em suas mesas. Curiosamente, em suas próprias casas, as pessoas usam copos —por sinal, de vidro—, e não canudos, para consumir suas beberagens.
Em alguns países, já há campanhas em andamento para abolir o canudo. Basta, na verdade, conscientizar os usuários a recusá-los para levar os proprietários de bares e garçons a deixar de oferecê-los.
E, claro, sempre poderemos sair com nossos próprios canudos não descartáveis, feitos de algum material resistente, aptos a ser lavados e reusados. A natureza agradecerá.