Wiktor (Tomasz Kot) e Zula (Joanna Kulig) se conhecem durante a já citada Guerra Fria, em um momento em que a Polônia usa a música e a cultura para tentar se reerguer. Ele já é um homem experiente e com seus próprios segredos, enquanto ela é uma jovem talentosa que está tentando encontrar seu lugar no mundo. Essas diferenças entre o casal pontuam todas as contradições que serão exploradas no filme: Wiktor representa o caos de um mundo ultrapassado, enquanto Zula é a renovação que chega depois da guerra.
Mas apesar de explorar o amor entre essas duas pessoas, Guerra Fria não faz isso do modo romântico tradicional. Os desencontros que acontecem durante os 15 anos da vida do casal são viscerais e dolorosos e não existem grandes demonstrações de amor. Ao invés disso, cada vez que enfrentam um problema, Wiktor e Zula se olham com um sofrimento profundo, envolto na capa de um amor calmo e conformado. O carinho está em pequenas ações e isso torna o relacionamento de ambos crível e nada óbvio.
Também é interessante perceber como Pawlikowski pontua as diferenças entre o caos e o belo. Em vários momentos há uma incrível cena de dança, com figurinos pomposos e cantoras afinadas, enquanto ao fundo há uma plateia passiva, vestida de preto, que observa o espetáculo como se ele não fizesse parte daquele lugar. Esse sentimento de inadequação também existe na protagonista. Zula é uma das jovens mais talentosas da companhia de dança, mas sempre está ligeiramente fora do tom em comparação aos outros músicos, como se não se encaixasse em nenhum lugar.
O clímax de Guerra Fria é rápido, agridoce e esperançoso. Mesmo com todos os problemas, Wiktor e Zula alcançam aquilo que – talvez – todos os casais buscam: eles se enxergam no olhar um do outro. Nem o tempo, a guerra e as separações foram capazes de mudar o sentimento de plenitude que os dois sentem quando estão juntos. Os cabelos não são mais os mesmos, as linhas de expressão já são aparentes, mas ali, na frente um do outro, os dois continuam tão jovens quanto já foram um dia.