Há alguns anos

Foto de Misquici.

Punhetoff.
(Minha classe não gosta, logo, é uma bosta)

Parati, a Festa Literária Internacional, foi uma loucura. Não consegui ingresso para quase nada (tudo estava esgotado) mas festejei durante três dias. Falei com Angeli e lhe entreguei meu livro; também o Veríssimo, na corrida, num seqüestro-relâmpago, recebeu o tal e o Ziraldo (levado de helicóptero) me deu um forte abraço e um beijo na face. Eu estava na cidade com algumas pessoas de Curitiba, participando do Off Flip – Circuito Paralelo de Idéias, como convidado do Casarão do Cunha, o Beto Batata de lá.

Hermínio Belo de Carvalho e Paulo César Pinheiro deram um show na casa com um bando de músicos de primeira. Eu não sou muito a fim de samba, aquele laiá laiá repetitivo e meio sem significado, mas insisti na coca-cola e resisti, que me perdoe o Robert Amorim.

Na noite de lançamento do meu livro Solda, cartuns, (também lançavam livros Paula Foschia, Paulo Polzonoff, César Rey Xavier e Antonio Thadeu Wojciechowski) eu estava sentado tranqüilamente quando apareceu um rapaz desenxabido (essa foi foda!) e apresentou-se a mim:
— Muito prazer, sou o Paulo Polzonoff.
— Eu sei. disse eu.
— Quero lhe pedir um milhão de desculpas pela crítica que fiz aos seus livros.
— Só um milhão?
— É que eu estou mudando. Tenho apenas 26 anos de idade, sabe como é a juventude… Mas estou mudando. Quer que eu faça uma retratação pública?
— Não, muito obrigado. Porra, meu! Que merda! Rimbaud escreveu tudo até os 17 anos e foi ser contrabandista de armas. Com 26 anos eu já era o bambambam do cartum em Curitiba! Você tem noção que daqui a 50, 100 anos, aquela página onde você fritou os meus livros estará disponível com as suas picuinhas?
— Prazer, eu sou um poeteco de Curitiba, disse Thadeu Wojciechowski, na mesma mesa.
— Quanto custa seu livro?, perguntou Punhetoff.

— 40 reais.
— Tenho que pagar agora?
— Não, pode pôr na conta do restaurante.

Enquanto isso pipocavam os flashes de máquinas fotográficas sobre nós, Lina Faria, Júlio Covello, João Urban, Nego Miranda e todo aquele pessoal que carrega maquininhas digitais documentando o encontro fatal.
— Oi, Eu sou Paula Foschia, namorada do Polzonoff, me dando seu livro Primavera Eterna (não li). E tentou me convencer que ela estava dando um jeito na vida do Polzonoff, safado, tirando ele dessa vida de crítico cricri, cricrizão da porra
E me apresentou a seguinte dedicatória:

“Para o Solda, que também é amigo da Clarah e só pode ser um cara mui bacana, portanto que este seja o início de uma nova amizade. Um beijo”.
Aí eu falei pra ela:
— Pô, você é aquela amiga que Clarah (Averbuck) me falou. Com amigas como você ela não precisa de inimigas! Mandei ela te cobrir de chineladas! Continuo achando o mesmo.

Levantei-me e fui pegar uma coca, acendi um cigarro e fiquei com uma baita pena daquele sujeitozinho se escondendo entre as pessoas que estavam na mesma mesa, que de vez em quando levava uma taça de vinho à boca, numa cara que garanto ser a mais sem vida deste planeta, vazia, sem expressão nenhuma. Era o que restara do Punhetoff. O que ajudou a matar Sebastião Uchoa, que eu nem sequer gostava.
— Está vendendo seu livro, perguntei?

— Quero ver se vendo alguns exemplares dessa merda, disse, referindo-se à porcaria que publicou pela Candide, O Cabotino.

Tomei mais duas cocas e fui feliz para o resto da vida, enquanto eles se retiravam com o rabo entre as pernas.

Alice Ruiz presenciou tudo e recusou-se a chegar perto da nossa mesa enquanto ocorria o pastelão. Domingos Pellegrini tem toda a razão quanto ao nosso criticozinho.

P.S. Ah, Paula Foschia chamou o Fun House, da Clarah Averbuck, de “aquele inferninho deles”. E não encontrei o Mário Bortolotto, que dizem, estava na cidade. Todas as estrelas que faziam parte da Feira estavam mais bem escoltadas que astros de rock.

Solda.

Sobre Solda

Luiz Antonio Solda, Itararé (SP), 1952. Cartunista, poeta, publicitário reformado, fundador da Academia Paranaense de Letraset, nefelibata, taquifágico, soníloquo e taxidermista nas horas de folga. Há mais de 50 anos tenta viver em Curitiba. É autor do pleonasmo "Se não for divertido não tem graça". Contato: luizsolda@uol.com.br
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