Tempo

Ícone e coisa e tal

Gente humilde, cada vez fico mais abilolado. Não leio mais os jornais do dia. Passo longe da tevê da hora. Mas, às vezes é preciso ler alguma coisa num jornalão. Tal como os classificados pra arranjar um quarto pra morar. Abri o jornal de um dia qualquer e fui folheando.

Lá pelas tantas dei com um texto cercado, desses de colaboradores. Um professor da Pontifícia Universidade Católica do Paraná escreve ‘O ícone e o que ele representa’. Fui lendo e, como sempre acontece com textos de professores universitários, não entendi nada. Poderia pôr o texto inteiro aqui, mas destaco um parágrafo. O segundo: “A substancialidade icônica ou meio de representação artística do símbolo possui um significado filosófico digno de uma apreciação mais acurada, pois tem o sentido profundo de uma ontologia evanescente, virtual, que carrega em si, como num processo quântico, a própria alma da natureza.”

E depois dizem que eu é que sou complicado! Quer mais? Vá ler na Gazeta do Povo de qualquer dia. Eu, pessoalmente, me babo quando leio essas coisas. Começo a divagar com frases como ontologia evanescente, virtual, que carrega em si, como num processo quântico, a própria alma da natureza e vou até Marte.Pode me chamar de burro, de preconceituoso, mas não entendi patavina do que ele quis dizer. Mas adoro textos assim e até imito sempre. Me lembram fumaça de fogueira de pneus: preta, fuliginosa, fedida. Que sobe em rolos densos e entra no nariz deixando tudo preto. Fico pensando na alma da própria natureza e não imagino nada. Nada. Nem um processo quântico num sentido profundo de uma ontologia.

Em algum lugar do passado

Sobre Solda

Luiz Antonio Solda, Itararé (SP), 1952. Cartunista, poeta, publicitário reformado, fundador da Academia Paranaense de Letraset, nefelibata, taquifágico, soníloquo e taxidermista nas horas de folga. Há mais de 50 anos tenta viver em Curitiba. É autor do pleonasmo "Se não for divertido não tem graça". Contato: luizsolda@uol.com.br
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