Ruy Castro – Folha de São Paulo
Números do IBGE afirmam que 2015 e 2016 foram os piores anos da economia brasileira desde 1930. O PIB encolheu quase 8% nesses dois anos, o que significa recessão. A comparação com 1930 é injusta. Nem naquele ano, em que o Brasil levou as sobras da Grande Depressão americana, a coisa esteve tão feia. Além disso, a atual crise brasileira não pode culpar nenhum fator externo. É coisa nossa, muito nossa, como dizia Noel Rosa.
Mas tem, de fato, semelhanças com aquela dos EUA. Entre os fatores que levaram à quebradeira americana, estava um governo irresponsável, o do presidente Herbert Hoover (1929-1933), dado a torrar o orçamento federal, oferecer subsídios às custas do povo e sustentar milhões de pessoas com dinheiro de vento. Isso não lhe lembra alguns dos nossos governos recentes? Nos dois casos, a conta apresentada pela realidade foi a mesma —12, 8 milhões de desempregados nos EUA em 1933; 12,8 milhões no Brasil de 2017. É o quadro em que todos ficam mais pobres, e os pobres, ainda mais pobres.
A depressão americana gerou romances como “As Vinhas da Ira”, de John Steinbeck, “A Estrada do Tabaco”, de Erskine Caldwell, e “Studs Lonigan”, de James T. Farrell; os quadros de Edward Hopper; os filmes de gângster com James Cagney; e canções como “Brother, Can You Spare a Dime”, com Rudy Vallee, e “We’re in the Money”, com Ginger Rogers —retratos típicos daquela época. A classe média foi vender maçãs nas ruas e os jovens passaram a disputar maratonas de dança para comer.
Os EUA reagem rapidamente a tudo. Mesmo assim, sua crise levou dez anos e só se resolveu com um presidente, Franklin Roosevelt, que enfrentou a herança maldita com medidas duras e não se cercava de tipos suspeitos.
Como já passei da idade de dançar 120 horas seguidas, acho que vou pesquisar o preço das maçãs no atacado.