Idoso é a mãe

O DETRAN avisa que posso renovar a carteira de motorista. Melhor, não. Todo dia tem acidente de trânsito, coisas absurdas, barbeiragem, alcoolismo, excesso de velocidade, desrespeito à sinalização. Sabe quem aparece no noticiário, sempre o mesmo? Um tal de idoso. Que tem nome, idade, geralmente um carrão. Pode ser culpado ou inocente, vítima ou causador, mais idoso ou menos idoso, pouco importa, o relatório da PM sempre fala do idoso, um genérico de pessoa imprestável; e a notícia vem no português ginasiano do Banda B. É muita humilhação. Nunca tive problema no trânsito. Aliás, meus problemas são com o carro parado, na garagem de casa, em manobras.

E vítimas, ainda que inocentes, são a parede, o parachoque, o meu bolso – e minha autoestima. Ali não tem relatório nem agente de trânsito. Ainda semana passada aprontei uma dessas. Mas sem testemunhas. Os vizinhos podem até me chamar de barbeiro ao verem o estrago. Mas de idoso, ninguém. Porque a maioria é gente mais velha, portanto, mais idosa. Eles mais as mães deles.

Sobre Solda

Luiz Antonio Solda, Itararé (SP), 1952. Cartunista, poeta, publicitário reformado, fundador da Academia Paranaense de Letraset, nefelibata, taquifágico, soníloquo e taxidermista nas horas de folga. Há mais de 50 anos tenta viver em Curitiba. É autor do pleonasmo "Se não for divertido não tem graça". Contato: luizsolda@uol.com.br
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