A Controladoria-Geral da Venezuela estendeu a pena de inelegibilidade da ex-deputada María Corina Machado para 15 anos, tirando do páreo a principal adversária do ditador Nicolás Maduro do pleito presidencial do ano que vem.
A decisão, acerca de miudezas administrativas, somou-se ao impedimento de dois outros potenciais concorrentes oposicionistas, Henrique Capriles e Juan Guaidó, na disputa —que, ao que tudo indica, pode até ser suspensa.
O anúncio ocorreu na sexta-feira (30), em momento oportuno para expor a Luiz Inácio Lula da Silva e seus aliados da esquerda nacional a verdadeira natureza do regime que insistem em defender.
Na véspera, o presidente havia concedido uma entrevista na qual novamente desfiou a ideia tortuosa de que, por ter eleições, a Venezuela seria uma democracia. Ora, já nos governos de Hugo Chávez tal alegação era discutível, e Maduro opera em modo ditatorial pleno desde 2017, solapando instituições.
Não satisfeito, Lula ainda emulou uma declaração do general Ernesto Geisel, penúltimo governante da ditadura militar brasileira, ao afirmar que “o conceito de democracia é relativo”.
A incapacidade do petista de formular pensamento crítico ante as ditaduras esquerdistas é histórica, como a defesa intransigente do regime comunista de Cuba prova.
Tal postura gera impacto na diplomacia brasileira: em março, o assessor lulista Celso Amorim visitou Maduro e voltou convencido de que o ambiente em favor das eleições era vibrante.
Ainda na fatídica quinta (29), Lula participou de uma reunião do Foro de São Paulo, que reúne vertentes da esquerda democrática e autoritarismos latino-americanos de vários graus no mesmo clube.
“Eles nos acusam de comunistas achando que nós ficamos ofendidos com isso. Isso nos orgulha muitas vezes”, disse. Por evidente, Lula nunca foi comunista, mas certamente inábil na retórica tem sido.
A fala é prato cheio para o bolsonarismo, que explora sentimentos de alcance nada desprezível —como atestou o Datafolha ao apurar que 52% dos eleitores temem que o Brasil possa abraçar o comunismo.
A verborragia escancara o relativismo de Lula quanto a valores democráticos no campo externo, justo quando um adversário local das instituições, Jair Bolsonaro (PL), perdia direitos políticos pela campanha contra o sistema eleitoral.
No caso venezuelano, não se trata de imitar o ex-presidente e cortar relações. Se for do interesse nacional, é possível ter diálogo com ditaduras —quando não imperativo, como ocorre com a China. Daí a menosprezar o caos humanitário gerado pelo tirano de Caracas, contudo, há larga distância.