Inelegibilidade é muito pouco para punir Bolsonaro

É um despropósito a Justiça ter de brincar de Al Capone para tentar cercá-lo

É uma piada de mau gosto Jair Bolsonaro ser julgado por abuso de poder político depois de tudo o que esse sujeito causou ao Brasil. Imagino que, numa análise fria, a inelegibilidade, pena que ele pode vir a receber, seja suficiente para alguns. Para outros, é só começo do inferno astral.

Para mim, é um despudor que esse traste ainda esteja por aí se lambuzando de Chopard e de leite condensado e a Justiça tenha que brincar de Al Capone para tentar cercá-lo.

Não à toa, essa comparação tem sido feita ad infinitum. O mafioso era acusado de assassinato, contrabando, tráfico, suborno, rede de prostituição e jogos ilegais, mas foi enquadrado por sonegação de impostos.

Tal qual o miliciano que ocupou o Planalto, envolvido em prevaricação, charlatanismo, crimes de responsabilidade, crimes contra a humanidade, falsificação de documentos, crime de lesa-pátria, ameaças ao Estado democrático de Direito, má gestão na pandemia, genocídio, ataques ao sistema eleitoral, estes muito antes da reunião com os embaixadores, que lhe podem render o gancho eleitoral.

O que temos para o momento? Inelegibilidade. Uma palavra grandona, mas uma pena muito pequena. É chacota com os brasileiros. Jair Bolsonaro sequestrou um país inteiro, puxou o freio de mão da nossa história, passamos os últimos quatro anos numa contagem regressiva apenas esperando para sair do cativeiro. Ainda que possa ser apenas o começo do seu acerto de contas, no futuro as próximas gerações olharão com assombro a passividade do Parlamento e da Justiça, cúmplices na manutenção da sociedade como refém de um golpista e seus capangas.

Ou talvez a inelegibilidade para Bolsonaro seja o máximo possível num país que deixa livre o motorista bêbado que mata pedestre, a dona de casa que deixa cair do prédio o filho da empregada, os maridos que matam suas mulheres, mas que bota na cadeia gente que rouba para comer ou para não morrer de frio.

Sobre Solda

Luiz Antonio Solda, Itararé (SP), 1952. Cartunista, poeta, publicitário reformado, fundador da Academia Paranaense de Letraset, nefelibata, taquifágico, soníloquo e taxidermista nas horas de folga. Há mais de 50 anos tenta viver em Curitiba. É autor do pleonasmo "Se não for divertido não tem graça". Contato: luizsolda@uol.com.br
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