Amigos, nem sempre a influência consiste em produzir texto parecido. Eu, por exemplo, fui muitíssimo influenciado por Guimarães Rosa, mas dou grátis um livro meu a quem apontar um só parágrafo meu onde possa ser demonstrado que tentei escrever parecido com o beletrista de Cordisburgo. Por outro lado, nossa literatura hoje em dia está saturada de gente reproduzindo os tiques e cacoetes de Rosa, os arcaísmos e regionalismos de Rosa, as prefixações inusitadas e as derivações-na-marra de Rosa. Se influência é isso, seria melhor tentar inventar uma vacina que acabasse com ela.
Nem sempre é o estilo de um autor que nos influencia; às vezes é o seu método. Uma das primeiras coisas que me chamaram a atenção em Rosa foi, nas edições de seus livros pela José Olympio, as páginas em fac-símile mostrando o modo minucioso e completo como ele repensava, revisava e refazia cada linha, cada parágrafo, cada palavra. Decidi escrever assim, e escrevo assim até hoje. Rosa viajava sempre com cadernos e cadernetas anotando tudo para possível uso futuro; ainda aos vinte e poucos anos, decidi fazer o mesmo. Nisto recebi também influência de Maiakóvski, que aconselhava anotar tudo; mas duvido que algum poema meu seja parecido com algum poema do bardo de “A Plenos Pulmões”.
Imitar o método de um autor é mais saudável do que imitar seu estilo. Com a ressalva, sempre, de que somos biologicamente incapazes de imitar o método (ou o estilo) de um escritor com quem não nos identificamos, um escritor de diapasão diferente do nosso. Melhor esquecer o estilo e tentar adotar hábitos, métodos, técnicas, rotinas e atitudes de A ou B que sentimos serem capazes de fazer render melhor nossos textos, dando um resultado muitíssimo nosso e pouquíssimo de A ou B. Imitar o estilo alheio nos reprime e nos desfigura; melhor imitar um método alheio quando este ajuda a nos desenvolver e nos revelar.