A Itália parece ter estimulado em Bolsonaro seu instinto fascista, pelo menos quanto ao caráter arruaceiro do fascismo. No sábado, o presidente insultou jornalistas durante uma caminhada em Roma. Estimulados por Bolsonaro ou talvez agindo conforme um plano combinado, seguranças agrediram os profissionais de imprensa.
O presidente brasileiro foi o único chefe de Estado que provocou confusão e violência durante o encontro do G20. Deve ser por causa dos ares do fascismo, cujo fedor está impregnado até hoje nas figuras com quem Bolsonaro esteve na Itália, neofascistas comandados por Matteo Salvini, da extrema-direita italiana.
A prefeita Alessandra Buoso, de Anguillara Veneta, que concedeu o título de cidadão honorário, é ligada ao partido de Salvini. A violência acompanhou Bolsonaro ao município, com a polícia investindo contra manifestantes que protestavam contra sua presença.
Como eu disse, são os ares pútridos fascistas, cuja marca foi esta bestialidade. Muito se fala sobre o fascismo e costuma-se superestimar a figura de Benito Mussolini, que foi uma besta quadrada, conforme a avaliação do filósofo Benedetto Croce, um dos maiores intelectuais da Itália.
Croce dizia que Mussolini possuía uma inteligência limitada, uma sensibilidade moral deficiente, era de uma ignorância elementar que o impedia de conhecer e compreender a essência primária das relações humanas, incapaz de uma autocrítica sem escrúpulos, excessivamente vaidoso, sem gosto na mínima palavra ou gesto, oscilando permanentemente entre a arrogância e o servilismo.
Parece alguém que conhecemos, não é mesmo? Os fascistas não são muito mais que isso. O escritor americano Ernest Hemingway dizia que o fascismo era uma mentira contada por um brutamontes.
Umberto Eco afirmou que, ao contrário do que se pensa comumente, o fascismo italiano não tinha uma filosofia própria. O mestre italiano aponta “a debilidade filósofica de sua ideologia”.
Acredito que ninguém duvida que Eco estaria capacitado a dar aulas a todos nós sobre este tema. Pois ele afirmava que o fascismo, de tão difícil definição, serviu para tachar regimes em vários lugares do mundo em diferentes períodos históricos, com disparidades de doutrina, na maioria dos casos de pouca firmeza teórica, a mesma doutrina de que carecia o bagunçado regime comandado por Mussolini.
O ditador italiano tinha a personalidade de fanfarrão e o comportamento covarde quando as coisas apertavam a um ponto que o fizesse temer pelo próprio destino. Bem, aí está outra semelhança com um extremista que conhecemos.
Bolsonaro foi receber o título de cidadão honorário em Anguillara Veneta. Em abril de 1945, a Resistência italiana tomou Milão, que fica relativamente próxima do lugarejo que deu o título honorário ao presidente. Claro que os guerrilheiros da Resistência eram o contrário dos italianos que homenageiam Bolsonaro, gente do partido do neofascista Matteo Salvini.
O confronto entre manifestantes e a polícia impediu a visita de Bolsonaro à Basílica de Santo Antônio, onde, por sinal, também não era bem-vindo. Mas o presidente podia ter substituído a ida à igreja por uma visita ao lugar onde fuzilaram o ditador idolatrado pelos seus parceiros da extrema-direita italiana.
Bolsonaro estava perto de Giulino di Mezzegra, pequena localidade onde Mussolini foi pego pela resistência italiana, quando tentava fugir apavorado para a Suíça. O ditador fascista foi fuzilado ali mesmo, em abril de 1945. Vejam que emoção turística desperdiçada pelo nosso inviável presidente.
No mesmo mês, Mussolini teve seu corpo dependurado de ponta-cabeça junto ao da amante Clara Petacci e de outros fuzilados, em uma viga da estrutura metálica de uma construção inacabada de um posto de gasolina, em Milão. Tudo próximo da cidade onde a prefeita de extrema-direita fez a homenagem a Bolsonaro.