O Mito deu ordem ao ministro da Justiça para pegar leve com Roberto Jefferson quando este feriu policiais, armado de fuzil e granadas. O ministro da Justiça, delegado federal, mandou a polícia ser branda com Roberto Jefferson depois da saraivada de balas nos veículos oficiais. Após parlamentação de fazer inveja à Scotland Yard, o livre atirador entregou as armas. Estes são os fatos, na frieza de sua objetividade. O resto é interpretação.
O Mito afirma, taxativo e categórico, que nunca viu Roberto Jefferson obeso, seja quando este começou na televisão, ou depois da operação bariátrica, menos ainda agora, esquálido e consumido pelo câncer, pela cassação e pelo rancor do fracasso; o Mito jamais posou sorridente em fotos com Jefferson no palácio do Planalto. De igual nunca cruzaram na Câmara e ao pedir votos a milicianos e bicheiros do Rio.
Não devemos duvidar do Mito. Ainda que lulistas conscientes ou bolsomínions catatônicos, temos que preservar o que nos resta de dignidade e saúde mental. O Mito e Roberto Jefferson apenas compartilham afinidade eletiva do amor às armas – entenda, amor às armas, não às almas, essa coisa covidiosa diante da qual o Mito boceja, vira para o lado, acomoda a pistola sob o travesseiro e imbrochável e indiferente dorme o sono dos impunes.
Sejamos compreensivos com o Mito. Homem generoso e compassivo, ele quis evitar que ao conter Roberto Jefferson, a polícia federal prejudicasse as armas com que seu nunca aliado e ilustre desconhecido, entrincheirado, enfrentava o fantasma da ministra Carmen Lúcia. Tudo não passou de um sonho, que terminou bem, como tudo no Brasil. Amanhã será igual a hoje, na mesmice inalterável dos cemitérios e no apoio, complacente, solidário ou omisso, ao Mito armado.