ndrew Tate é uma estrela do TikTok com vídeos que foram vistos mais de 12 bilhões de vezes. Se você se irrita com a estupidez das pessoas fazendo dancinhas, deveria se preocupar com o conteúdo produzido por esse ex-lutador de kickboxing que prega que mulheres devem apanhar, ser sufocadas, responsabilizadas por seus estupros.
O que um sujeito como Tate pode ter a ver com o adolescente de 13 anos que matou uma professora e esfaqueou outras cinco pessoas? Uma pontinha do que existe em abundância hoje na internet: comunidades que radicalizam adolescentes e homens jovens a ponto de transformá-los em assassinos.
No ano passado, o inglês The Guardian publicou uma investigação que mostra como os algoritmos tiraram Tate da obscuridade e o transformaram numa celebridade e como os usuários são levados a conteúdos mais violentos.
O ódio às mulheres tem sido falado desde o episódio “coach da Campari“, mas há outros fatores que atraem os jovens: a identificação. Os membros dessas comunidades compartilham isolamento social, ansiedade, baixa autoestima, sentimento de rejeição, fracasso social e, às vezes, falta de perspectiva profissional.
Esses jovens buscam nesses grupos o que imaginam ser sua única chance de redenção: vingar-se da sociedade na qual não conseguem se encaixar, protagonizando assassinatos que lhes deixariam “famosos”, mas que, de fato, os transformam em heróis nos antros que frequentam.
Em 2018, me interessei pelo assunto quando dez pessoas foram mortas no Canadá. A investigação revelou que o assassino compartilhou seus planos, foi estimulado e aplaudido. Sua inspiração era um jovem de 22 anos que matou seis alunos nos EUA, deixou um manifesto intitulado “Meu Mundo Perturbado” e disse que as mortes eram sua vingança contra a humanidade. Não foi à toa que o estudante de São Paulo usou como identificação nas redes o nome de um dos autores da chacina em Suzano.