Deve-se aos gregos a elaboração científica da gramática. “Dentro de uma perspectiva filosófica”, ensina a Wikipedia. Verdade. Aristóteles ensinou lógica adotando os conceitos de sujeito, predicado, objeto, por exemplo. Portanto, coisa tão óbvia quanto ignorada, o ato de escrever não passa de materialização do pensar. Tente explicar para essa gente nada bronzeada do Direito, amantes dos advérbios redundantes e escorregadios.
Penso no mais famoso de nossos juristas, o grande advogado que – diria ele – ‘toma assento na curul presidencial’. Michel Temer, o pensador que substituiu outra pensadora, tenta usar a gramática mineira, não a dos lógicos. A gramática mineira usa as palavras para esconder o pensamento; funcionou em outro Brasil, neste, não pega mais. No Brasil da Lava Jato, as palavras dos políticos são debulhadas como espigas de milho.
Sobre a última acusação de corrupção, uma das duas que o Supremo mandou na semana para a Câmara dos Deputados, Michel Temer responde à imprensa que “são inverdades absolutas”. Se dissesse ‘inverdade’, estaria de bom tamanho, pois verdade e inverdade são absolutas por si mesmas. Uma tautologia, segundo a lógica. Redundância, vinda de advogado de boa-fé, no esforço de defender o cliente.
Mas vindo de Michel Temer, a gente conclui: então tem alguma, ou toda, verdade nas acusações. Primeiro pelo conjunto da obra de Michel Temer (a política, pois ele tem na biografia as obras jurídicas, também versadas em português cauteloso, já auto defensivo). Segundo porque, ainda pela lógica, seria impossível inventar-se tanta mentira contra um político. Afinal, não é o que fazem com o probíssimo presidente Lula? Seria impossível, mas em absoluto (olha a influência de Temer) improvável. Improvável? Sim, na lógica da probabilidade e na jurídica da prova.