Uma das coisas que eu sinto estar perdendo no Brasil, além das empadinhas de camarão do bar e restaurante “Caranguejo” e a água de coco de qualquer quiosque, é a campanha eleitoral. Acompanho suas idas e vindas pela jornalada digital. Escândalos, palavrões, acusações fundadas e infundadas (tanto faz), gente opinando em tudo quanto é página, gente se aproveitando de cada minuto gratuito cedido pelo TSE, gente desconhecendo serena, ou exaltadamente, tudo nos bares e botequins que ainda conseguiram resistir à depredação dos distintos eleitos neste anos de minha ausência.
De uma coisa minha consciência está tranquila, eu não contribui com meu voto para a “beirutização” ou “darfurização” de qualquer cidade deste Brasil que é vosso, do Oiapoque ao Chuí, conforme se dizia na minha época, aquela em que ou me deixavam ou me obrigavam a votar (ainda feito hoje).
Sempre primei em ou anular o voto, ou justificar minha ausência, mediante os préstimos a preços módicos de meu querido despachante, o Messias, que, espero, esteja próspero e gozando de boa saúde.
Os excelentíssimos candidatos
Sejamos docemente francos, meus amigos: nós votamos em fulano ou sicrano por uma questão física. Não tem nada a ver com capacidade administrativa, lisura política, passado de realizações.
É exatamente pelo mesmo motivo que ficamos de olho naquela moça sentada na mesa, logo adiante, e que, mesmo a uma boa distância, explicamos para o amigo do lado, com nosso ar velhaco e misterioso, “Sei lá, rapaz, é uma coisa de pele”. Nossa pele não chegou a dois metros da pele da moça e vamos logo mentindo ¿ para o amigo, para nós mesmos.
A cisma é incapacidade de auto-análise. Não sabemos lidar com nossas cismas. Dá-se o mesmo conosco diante dos candidatos. Candidatos a tudo. Mesmo a orador na turma que completou o curso de Direito. É uma questão de pele. E olha que não vai frescura nenhuma nisso.
Viver é uma questão de pele, se me permitem, a esta altura dos acontecimentos, um azulejo razoável. Diante da seriedade do cumprimento do dever cívico, não devemos, mesmo no Brasil brasileiro e inzoneiro, votar apenas “por uma questão de pele”. Há outros fatores em jogo. Desses outros fatores, apenas um importa.
Das virtudes de uma boa publicidade
Vivo me gabando de ter sido publicitário. Sem razão. Vender qualquer coisa, num país caindo de trouxas, não é complicado. Reconheço as virtudes de um bom slogan, incisivo, ou curto e grosso, conforme se diz em linguagem parlamentar.
Um amigo me envia por e-mail, sem precisar as origens, os mais divertidos slogans desta campanha eleitoral. E deve ser assim mesmo: eleição é urna eletrônica de existência, procedência e funcionamento inexplicáveis ¿ sonho, mistério, ilusão.
Mas à lista, conforme me envia o amigo, e em ordem decrescente. Em 8º lugar, o de Guilherme Bouças, com “Chega de malas, vote em Bouças”. Em 7º lugar, o grito de guerra do candidato Linguiça, de Cotia (SP), “Linguiça neles!” 6º lugar, em Descalvado (AL), onde uma candidata chamada Dinha optou por “Tudo pela Dinha”. 5º lugar, em Carmo do Rio Claro, o candidato Gê não teve dúvidas, “Não vote em A, nem em B, nem em C, na hora H, vote em Gê”. 4º lugar, Hidrolândia (GO), o candidato Pé chutou firme, “Não vote sentado, vote em Pé”. 3º lugar, em Piraí do Sul, um gay chamado Lady Zu foi delicado, “Aquele que dá o que promete”. Em 2º lugar, a stripper cearense Débora Soft e estrela de show de sexo explícito, sugeriu, “Vote com prazer”. E em 1º lugar, indo para o trono, ou onde preferir, o candidato a prefeito de Aracati (CE), “Com a minha fé e as fezes de vocês, vou ganhar a eleição.”
Pensem bem, pensem uma, duas, três vezes, antes de votar neste domingo.
Ivan Lessa (Eleições 2006)