Janaina Paschoal deixa pra lá o nepotismo e passa a mão na cabeça do filhão de Bolsonaro

Janaina Paschoal deu sua opinião sobre a nomeação de Eduardo Bolsonaro como embaixador nos Estados Unidos. A deputada estadual pelo PSL de São Paulo tratou a questão do nepotismo como “eventual”, deixando de fora o aspecto ético e moral da nomeação de um filho pelo presidente da República para a ocupação de um cargo de confiança. Que diferença daquela firmeza com obrigações morais, muito marcante em seu passado recente. Faltou o ímpeto justiceiro que chegou até a render memes com trilha sonora de banda heavy metal.

Ninguém pode ser acusado de exagerado se rogar aos céus uma resposta sobre onde foi parar o furor ético dessa senhora. O fervor era até um pouco exagerado, mas na ética na política é preferível o rigor do que a falta dele. E não estou falando do processo de impeachment de Dilma Rousseff, cujo equilíbrio não foi só da sua responsabilidade.

Janaina ficou famosa pelas suas manifestações pessoais extremadas sobre política. Quando era cotada para ocupar a vaga de vice ela chegou a alertar a militância bolsonarista para que não se adotasse um comportamento parecido ao dos petistas. Ela disse isso ao lado de Jair Bolsonaro, em um evento do lançamento da candidatura.

Pois ela foi se igualar aos petistas exatamente neste debate, quando é vital que se fale da ética e do respeito que se deve ter a regras morais em funções públicas, sem que isso precise ser obrigatoriamente detalhado em lei. É a mesma admissão que o PT faz do indefensável, quando é do interesse dos que mandam no poder.

Em mensagem no Twitter, depois de qualificar como “eventual” o claro nepotismo, Janaina aponta o compromisso de Eduardo com seu mandato de deputado federal de “quase dois milhões de votos”, apelando também para suas “responsabilidades no Brasil”.

A deputada estadual diz que o deputado deve “agradecer a deferência e declinar” do convite, como se não fosse uma nomeação acertada de antemão entre ele e o pai. Só falta pedir que ele faça cara de surpresa quando recusar a indicação. Janaina fala também que o filho do Bolsonaro “tem muito a fazer na Câmara e na Presidência Estadual do PSL”.

Com isso, ela acaba levantando um problema grave no currículo do provável futuro embaixador nos Estados Unidos. Sua liderança no PSL é um desastre. Não se dá nem com a líder do governo no Congresso, Joice Hasselmann, deputada federal por São Paulo, que ficou apenas atrás dele em número de votos no estado. Na articulação no Congresso o filho de Bolsonaro também é um fiasco. Basta a ver a condição caótica do partido e da base do governo de seu pai.

O que Janaina parece querer é dar um jeito para Eduardo Bolsonaro se safar de uma situação altamente arriscada. Parece que o filhão armou junto com o paizão uma arapuca para ele mesmo. A indicação de seu nome depende de prévia renúncia ao mandato de deputado. Só depois vem a decisão do Senado. A repercussão do anúncio da nomeação foi péssima, fazendo rachar até mesmo a militância bolsonarista. E seu nome pode ser recusado. Seria a primeira vez que isso acontece no Senado, deixando-se sem a embaixada e fora da Câmara.

Em razão desse perigo, com o qual Eduardo não contou na sua afobação para se dar bem, os argumentos de Janaina estão na medida certa como justificativa para ele sair dessa fria. Essa sua conversa nada tem a ver com o que era esperado dela na política brasileira, a partir da sua atuação com Hélio Bicudo, Miguel Reale Jr. e outros colegas, no histórico processo de impeachment que acabou com o ciclo de poder do PT e para isso teve o apoio nas ruas de brasileiros que acreditam que vergonha na cara é uma obrigação, mesmo que não esteja em lei alguma.

Sobre Solda

Luiz Antonio Solda, Itararé (SP), 1952. Cartunista, poeta, publicitário reformado, fundador da Academia Paranaense de Letraset, nefelibata, taquifágico, soníloquo e taxidermista nas horas de folga. Há mais de 50 anos tenta viver em Curitiba. É autor do pleonasmo "Se não for divertido não tem graça". Contato: luizsolda@uol.com.br
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