Lembro de passagem que vivi na faculdade de Direito, quando o professor Sansão Loureiro, de direito constitucional, escolheu alunos para lerem trechos do Amante de Lady Chatterley, romance de D. H. Lawrence, banido na Inglaterra entre 1928 e 1960 – nem tanto pelos trechos picantes como pelo absurdo de uma lady envolver-se com o belo e vigoroso homem da mais baixa extração plebeia, Oliver Mellors, o guarda-caças da propriedade supria a carência sexual da lady, efeito da impotência do marido, inválido de guerra.
A mim coube ler o trecho em que o guarda-caças vencia a “vergonha orgânica” de Lady Chatterley. Embatucado, desconfiado de eufemismo na tradução, recuei a página e veio a epifania: era o sexo anal. O governador Ratinho Júnior devia ler o Chtaterley antes patrocinar o Savonarola, atiçador da pira literária. Faça como nós, na juventude: ponha uma capa fake no exemplar, título falso, sugiro ‘lições de jardinagem’, esconda no banheiro e leia sentado na privada, o livro numa das mãos.