Joca e Helena

Joca Vieira foi um farmacêutico e professor de Geografia nascido em Patos na Paraíba, no final do seculo XIX. Os pais resolveram suprimir Arcoverde de seu nome porque havia um tio homônimo, tendo sido registrado, então, como  João Rodrigues Vieira – mais tarde apenas professor Joca- como gostava de ser chamado.  Depois de formar-se em Farmácia, no Recife, viajou, com seu irmão Miguel Arcoverde para Amarante, no Piaui, onde já residia um outro irmão, Eudocio, juiz de Direito.

Lá montou uma farmácia e casou-se com Helena Sobral, uma descendente de portugueses – a moça da casa de azulejos, filha de um negociante de produtos de decoração importados – com quem teve cinco filhos. Por insistência de Helena, mudaram-se  para a capital, Teresina, tendo ele iniciado uma nova profissão – a docência, deixando para trás a cidade que amaria ate o final da vida – Amarante.

Estudioso, possuía uma cultura vasta e refinada.  Escrevia contos os quais nunca foram publicados. Por terem sido escritos com lápis grafite, processo com pouca duração,  suas escrituras não puderam ser publicadas postumamente. Interessava-se por política o que o motivava a sair quase todas as manhas para saber das últimas notícias acerca da política local.

Com uma visão de mundo vasta, ele acreditava e estudava a existência de vidas fora do Planeta Terra e era terminantemente contrario aos maus-tratos a quaisquer tipo de animais, defendendo o direito que todos eles possuem de viver,  incluindo os insetos.

Joca era calmo e pacífico. Helena era intensa e extrovertida, juntos eram solidários e capazes de lutarem pelo bem-estar de pessoas que jamais haviam visto antes. Apoiaram pessoas, projetos solidários, lutaram juntos por sua sobrevivência e pela dos outros. Apesar de possuírem características opostas, encontraram no amor ao próximo o que solidificava a cada dia o afeto que sentiam um pelo outro.

Ambos morreram em Teresina. Ela faleceu em 1980, seis anos depois do marido, não de amor, como os poetas do Mal do Século,  mas de saudade. Sentia falta de vê-lo no terraço todas as manhãs e tardes, lendo e escrevendo. Naquele dia – seis de agosto –  seria a derradeira leitura – Israel em abril de Érico Veríssimo. Findara a trajetória do professor Joca – um homem  simples em seus anseios cotidianos, complexo em suas ideias e pioneirismo. Um homem de família, para quem a família ia além da esposa e dos que dera vida.

Sobre Solda

Luiz Antonio Solda, Itararé (SP), 1952. Cartunista, poeta, publicitário reformado, fundador da Academia Paranaense de Letraset, nefelibata, taquifágico, soníloquo e taxidermista nas horas de folga. Há mais de 50 anos tenta viver em Curitiba. É autor do pleonasmo "Se não for divertido não tem graça". Contato: luizsolda@uol.com.br
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