Bolsonaro: o mito desmoralizado pelo WhatsApp

As gravações de mensagens de áudio de WhatsApp trocadas entre o ex-ministro Gustavo Bebianno e o presidente Jair Bolsonaro têm um efeito parecido ao das gravações de telefonemas de Lula, liberados pelo então juiz Sérgio Moro na época em que Lula e Dilma Rousseff tentavam encontrar um modo de encaixá-lo em um cargo no governo petista para evitar que fosse preso.

Os diálogos entre Lula e a então presidente da República e outros companheiros, em março de 2016, revelaram uma pessoa mesquinha e grosseira, muito diferente do mito de propaganda que fazia o sucesso de Lula. Com Bolsonaro aconteceu algo parecido. Embora o chamado “mito” não tenha o peso histórico do chefão do PT, Bolsonaro se elegeu com a fama da integridade, da firmeza de propósitos, um político empenhado em atacar os graves problemas públicos brasileiros com rigor e seriedade.

Pois foi pego numa ordinária lavagem de roupa suja, alimentando futricas de uma cama de hospital, enquanto o subordinado que acabou sendo demitido procura colocar panos quentes na crise que o próprio filho do presidente criou e alimentou com um espírito da mais irresponsável molecagem. O diálogo absurdo mostra um presidente da República obcecado com uma questão irrelevante, deixando de lado a responsabilidade do comando de um país ainda atolado em uma crise econômica e moral muito grave. O eleitor brasileiro colocou no comando do país um sujeito que tem cabeça e temperamento de tia do WhatsApp.

Como o papo entre Bebianno e Bolsonaro foi por meio desta revolucionária tecnologia pode-se perguntar se os dois maiorais não tinham louça pra lavar. E todo mundo sabe da pilha de serviço por fazer. Coisas sérias para avaliação e estudo, talvez a Reforma da Previdência, o projeto de Sérgio Moro, assuntos desse tipo. E foi mais ou menos isso que Bebianno tentou dizer na conversa, apontando a irrelevância do tema levantado pelo presidente da República e o filho mimado, no ridículo debate público sobre quem mentiu quanto a existência de uma conversa sem importância. E no final ficou provado que o mentiroso é Bolsonaro. Mentiroso e otário. Hoje em dia não é preciso ser um craque em comunicação digital, como ele acha que é seu filho encrenqueiro, para saber do uso que costuma ser feito de diálogos pelo celular.

Bolsonaro sofreu um golpe forte, de uma forma parecida à repercussão entre a população das conversas privadas de Lula, reveladas pelo ex-juiz federal que hoje é seu ministro da Justiça. O impacto contra um mito pode vir de fatos muito simples como este, de uma conversa atravessada, que desmascara o sujeito que uma grande parcela de brasileiros pensava ser um estadista, revelando que ele não passa de um político tosco obcecado com picuinhas.

Sobre Solda

Luiz Antonio Solda, Itararé (SP), 1952. Cartunista, poeta, publicitário reformado, fundador da Academia Paranaense de Letraset, nefelibata, taquifágico, soníloquo e taxidermista nas horas de folga. Há mais de 50 anos tenta viver em Curitiba. É autor do pleonasmo "Se não for divertido não tem graça". Contato: luizsolda@uol.com.br
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