Uma sabedoria da vida que cabe muito bem na política é a de não criar situações que exponham publicamente nossas fraquezas. Num partido com os anos de experiência do PT uma lição como esta deveria ser uma prática cotidiana ou pelo menos tinha que ser considerada em momentos delicados. Não é o que acontece no partido do Lula. Os petistas estão sempre criando desafios difíceis para eles próprios, hábito que não é recente e que está tendo um uso exasperado nesses dias de véspera do julgamento de Lula em segunda instância no TRF 4, de Porto Alegre.
Durante o processo de desgaste político da presidente Dilma Rousseff, que culminou com sua queda, suas lideranças criavam situações de confronto o tempo todo, com a cúpula partidária e sua militância na ocupação de bolar as mais variadas ações muito difíceis de realizar e de efeito excessivamente agressivo. Então, mostravam-se fragilizados na falta de público e com a precariedade das ações. Por outro lado, a agressividade acabava contribuindo para dificultar ainda mais o trabalho de bastidores para salvar o mandato de Dilma.
Esta tolice política pode ser observada na manifestação anunciada para o sábado passado — dia 13, data que sempre acende o espírito marqueteiro dos petistas. É claro que foi um fiasco, mas independente desse fracasso que não era inesperado, cabe questionar qual seria a razão que leva uma cúpula partidária a entrar, sem trocadilho, numa roubada dessas de puxar para si a responsabilidade de organizar manifestações em todo o país, quando o PT já tem programada para pouco mais de uma semana os atos no dia do julgamento de Lula. Este fiasco do sábado, 13, acabou servindo como antecipação do que virá no dia 24.
A cúpula do PT ainda vive na ilusão do mito da existência da tal da “militância petista”, que é algo que só existiu nos primeiros anos do partido e mesmo assim nunca teve fôlego de juntar multidão. Já faz muitos anos que o PT ganha eleições com uma máquina eleitoral altamente profissional e muito dinheiro de campanha. Os companheiros vestidos de vermelho e fazendo algazarra entram só para dar aparência de movimento popular. Para isso o partido sempre contou também com as estruturas de sindicatos, que no geral atuam somente com gente do esquema corporativo profissional, sem a participação maciça de trabalhadores. Podem fazer barulho, mas de jeito nenhum lotar atos públicos.
A militância petista não existe mais. No entanto, no imaginário petista permanece forte essa ilusão de ser um partido de massas, com forte poder de pressão nas ruas. É uma antiga síndrome peronista do PT, que não condiz com a realidade, até pela ausência de um Juan Domingo Perón e de sindicatos com forte peso ideológico. Lula não é um Perón, por supuesto. Nem os sindicatos que fizeram sua lenda foram estabelecidos a partir de compromissos sólidos de esquerda. E falta-lhe também uma Evita, como é muito óbvio e disso ele deve ter ainda mais consciência do que qualquer um. Tem que se arranjar com Gleisi Hoffmann, um pouco com Dilma. E os remanescentes de uma militância que está cada vez mais difícil catar para fazer volume. Multidões tomando as ruas é só um sonho besta do PT, que felizmente para o Brasil nunca se realizou.
José Pires – Brasil Limpeza