Juízo e prejuízo estético

O Contardo Calligaris tem um texto no UOL falando do tal “juízo estético”. Ele viu a grande instalação do Christo e da Jeanne-Claude no Central Park de New York e “teceu considerações” muito oportunas sobre juízo estético e os tempos modernos. Mantive acalorada discussão escrita com meu amigo Tom Capri (SP) por uns cinco anos sobre, basicamente, estética. Meu amigo, entre outros tantos argumentos, sustentava que ainda é possível estabelecer “obras-primas universais”.

Tipo “juízo estético universal”: Van Gogh é um gênio pra toda a humanidade. Eu achava que, hoje, é impossível estabelecer nada mais que “gosto pessoal” em qualquer coisa. Talvez nunca tenha sido possível o “gênio universal”. Um conceito como ‘beleza’ é totalmente impossível de ser universal. Dizemos que um quadro de Picasso é genial pro mundo inteiro por uma questão de facilidade. Os esquimós pouco ligam pra ele. E nós pouco ligamos pra opinião deles. Temos que ir por partes, como queria Descartes.

O mundo sempre foi vasto. Hoje é pessoal e intransferível. Consenso é difícil. Unanimidade é burra. Nenhuma obra se impõe por suas qualidades próprias, intrínsecas. Ela depende única e fundamentalmente de quem a vê. Vê e traz pra frente dela toda sua vida e vivência no campo estético. Uma coisa que acho fantástica pode ser apenas água nas penas do pato pra outra pessoa. Estamos cada vez mais sós diante do que ainda se chama de Arte. Cada um com seus recursos de vida enfrenta ou não a obra. Desiste de entender ou tenta achar sentido. Acha bonito e vai embora ou faz questão de ver mais adiante. A resposta emocional de cada um é de cada um. Pra se encontrar outra pessoa com a mesma resposta seria preciso confrontar. Porém, hoje, os confrontos estão cada vez mais escassos. Prefere-se dar de ombros e seguir. Pessoalmente, acho que a arte se transformou em arghte! Cada um engole como pode, digere, rumina ou vomita.

Pra terminar, digo que hoje o que se chama de arte serve mais pro próprio artista. É uma maneira de ele não enlouquecer, de se manter ativo, de se sentir vivo. Mesmo que ele tente a empatia com os apreciadores, fazer arte parece mais coçar o formigamento no pé que foi amputado.

(Piada): Diga pra alguém que acabou de gravar um CD pela Sony. A pessoa dirá: Ah, minha netinha de cinco anos já gravou dois. Precisa ver como canta o Bundalelê no apê!

*Rui Werneck de Capistrano é editor de arghte!

Sobre Solda

Luiz Antonio Solda, Itararé (SP), 1952. Cartunista, poeta, publicitário reformado, fundador da Academia Paranaense de Letraset, nefelibata, taquifágico, soníloquo e taxidermista nas horas de folga. Há mais de 50 anos tenta viver em Curitiba. É autor do pleonasmo "Se não for divertido não tem graça". Contato: luizsolda@uol.com.br
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