A derrota da senadora Kátia Abreu neste domingo no primeiro turno da eleição para o governo de Tocantins pode servir como modelo do que deve vir por aí para políticos com a imagem ligada ao PT de Lula. A eleição foi convocada em razão da cassação do mandato do governador Marcelo Miranda (MDB), em março deste ano. A derrota de Kátia Abreu serve também como demonstração do papel de institutos de pesquisa nas eleições brasileiras. Esses institutos são na maioria das vezes meros instrumentos de promoção de candidaturas. As pretensas metodologias científicas servem apenas como apoio para influenciar o voto do eleitor. O ordenamento final dos números em conformidade com a previsão ocorre mais pelo reforço de propaganda, estimulado principalmente na mídia pelos institutos.
Mas em determinadas ocasiões o plano pode não dar certo. Parece que foi isso que ocorreu agora no Tocantins. Pesquisa do Ibope dava como certa a presença no segundo turno de Kátia Abreu, pelo PDT. Pela pesquisa, ela estava na frente em grande vantagem, com 22% dos votos. Mauro Carlesse (PHS), que acabou sendo o mais votado, estava em quarto lugar, com apenas 10%. Na votação de fato foi Kátia Abreu que ficou no quarto lugar, com apenas 15,66%. Carlesse teve o triplo do que dizia o Ibope: 30,31%. Carlesse e o senador Vicentinho Alves (PR) disputarão o segundo turno, marcado para 24 de junho.
O Ibope é tão conhecido no país que até virou sinônimo de popularidade, depois de décadas pesquisando audiência de televisão, escorado no poder de uma grande rede de emissoras. Porém, nunca foi confiável. Teve seu prestígio fabricado durante um período de pouquíssima liberdade, com a comunicação restrita a poucos veículos de imprensa. Imagine o que ocorre então nesses institutos que atuam mais em época eleitoral. Para se ter uma ideia do valor das pesquisas como instrumento favorável a candidatos e partidos, cabe perguntar onde foi parar o notório Instituto Vox Populi, que desde a primeira eleição de Lula para presidente colocava sempre na frente os candidatos petistas em eleições pelo país afora. Vale apontar também que as pesquisas têm pautado o debate sobre as eleições de 2018. Pelos números de alguns deles, já tem candidato com lugar garantido no segundo turno.
O fiasco de Kátia Abreu já esta sendo usado para medir o grau de influência eleitoral de Lula e seu partido. No Tocantins, o resultado foi altamente negativo, o que vai deixar Lula numa posição incômoda como líder político. Isso acaba com sua fama de eleger até poste. Nunca acreditei nisso. Sempre afirmei que nas eleições que tiveram a participação de Lula pesou muito mais o peso financeiro e de propaganda garantido pelos benefícios do poder. O mensalão e a Operação Lava Jato trouxeram as provas sobre a dinheirama que sustentou o mito de Lula até a segunda eleição de Dilma Roussef.
Já corre pela internet um vídeo com Gleisi Hoffmann, presidente do PT, lendo uma carta pública de Lula em apoio a Kátia Abreu. O material serve como referência da qualidade de seu apoio. A candidata acabou em quarto, muito atrás dos outros competidores. Teve seis pontos a menos do terceiro lugar. A impressão que fica desta eleição — da larga vantagem de Kátia Abreu na pesquisa até a votação real muito menor — é que houve uma tentativa de reforçar o mito de Lula. Mas nem importa se isso de fato aconteceu. O resultado revela que esse pretenso poder político do chefão petista não passa de uma fraude.