Ladrões, inclusive de galinhas

Os sociólogos, como sabemos, vieram ao mundo para nos explicar por que as coisas são como são. Por isso, outro dia recorri a um deles para me dizer por que, num país tão farto em ladrões, um dos mais simpáticos e poéticos desaparecera: o ladrão de galinhas.

A culpa foi da especulação imobiliária, ele me disse. Com a substituição das casas pelos edifícios e o fim dos quintais, acabaram-se os galinheiros domésticos. E, sem eles, não pode haver ladrões de galinhas.

Daí minha surpresa ao ler sobre o furto de 25 codornas poedeiras no quintal de uma casa em Selvíria, no Mato Grosso do Sul. Um jovem chamado Jocimar, acusado do crime, foi a julgamento e tomou um ano de prisão. Nas várias idas e vindas do caso pelo Tribunal de Justiça, Ministério Público e STJ (Superior Tribunal de Justiça), Josimar foi absolvido, condenado e absolvido de novo.

Foi então que me dei conta de que esse caso aconteceu em 2001, mas só agora, nesta quarta-feira, chegou ao STF (Supremo Tribunal Federal), que o finalizou. Os ministros Carmen Lúcia e Dias Toffoli condenaram Josimar, mas Gilmar Mendes, Teori Zavascki e Celso de Mello aplicaram o princípio da insignificância e votaram pela absolvição. Josimar é hoje não apenas um homem livre, mas o último ladrão de galinhas vivo do país. Merecia um estudo.

Nesta mesma quarta, talvez na mesma sessão, o STF tomou a decisão histórica de mandar prender o senador petista Delcídio do Amaral, por acaso também do Mato Grosso do Sul, por tentar subornar o ex-diretor internacional da Petrobras Nestor Cerveró, para ele não abrir o bico, e ajudá-lo a fugir para a Espanha.

Nos velhos filmes ingleses e americanos, o sujeito dava um golpe lá fora e vinha se esconder no Brasil. Agora é diferente: o sujeito dá um golpe no Brasil e vai se esconder lá fora. Preciso achar um sociólogo que me explique isso.

ruy-castro

Ruy Castro – Folha de São Paulo

Sobre Solda

Luiz Antonio Solda, Itararé (SP), 1952. Cartunista, poeta, publicitário reformado, fundador da Academia Paranaense de Letraset, nefelibata, taquifágico, soníloquo e taxidermista nas horas de folga. Há mais de 50 anos tenta viver em Curitiba. É autor do pleonasmo "Se não for divertido não tem graça". Contato: luizsolda@uol.com.br
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