A primeira vez que Laerte Coutinho publicou um desenho na Folha foi há quase 40 anos. Só que Laerte já tinha participado deste jornal muito antes disso —quer dizer, do jornal que ela mesma tinha inventado.
Aos oito anos, Laerte fez com lápis e caneta uma versão do que via chegar todo dia à sua casa. Seus pais eram assinantes, ou seja, não precisavam ir à banca comprar a Folha, porque ela era entregue cedinho no portão.
No jornal da Laerte, havia uma notícia sobre um grupo de meninos que jogava futebol na rua. Depois de um gol, um garoto mandou que o cachorro de um policial mordesse a perna do adversário.
Também havia propagandas de uma loja de roupas, de brinquedos, de vagões e de uma bebida, tudo com desenhos que Laerte criava. “Na minha ambição, eu estava fazendo igualzinho ao de verdade. Tinha até as colunas”, lembra Laerte, que tem 69 anos e até hoje desenha para a Folha.
Ela, que assinava seu jornalzinho como repórter, conta que achava que fazer jornalismo era parecido com o que ela via nos filmes e quadrinhos americanos. “Tipo o Super-Homem”, explica.
“Acho que tinha a intenção de fazer um jornal de uma página inteira, levasse o tempo que levasse. Tento lembrar das sensações que tive naquele momento, mas não são muito claras.”
Laerte cresceu e continuou desenhando. Criou tirinhas para vários jornais e revistas, incluindo O Pasquim, uma publicação que foi muito importante para a história do jornalismo brasileiro.
Na Folhinha, Laerte teve duas principais personagens: Suriá, uma menina que vivia no circo com a família, e Lola, uma andorinha. “A gente olha um passarinho e ele parece não ter objetivo. É mentira, ele tem. Aliás ele é um bicho muito preocupado”, explica.
“Eu quis fazer um passarinho que parecesse que estava brincando. De vez em quando, ela punha um ovo. Ela teve um namorado, e depois uma namorada chamada Juju.”
Laerte diz que a Folhinha foi muito importante na sua história pessoal. “E ainda foi o melhor suplemento para crianças que eu vi no Brasil.”