Veja bem, não estou pedindo a ninguém para colocar cadeiras na calçada, sentar e conversar com os vizinhos, enquanto uns jogam canastra, outros cantam ao som do violãozinho e o restante esmerilha o Lula, o Requião e o Beto Richa. Nem me passa pela cabeça que façam serenatas, como aquele meu inesquecível tio de Santo Antônio da Patrulha. Menos, bem menos.
O que é que custa aos curitibanos aborígenes e agregados, meus caros companheiros de glórias e infortúnios subtropicais, responder emails, retornar ligações ou, sendo bem realista, ao menos retribuir os tímidos bons dias uns dos outros?
Afinal, não somos todos meio parentes por parte de Dalton Trevisan? Não trincamos a mesma broinha de fubá mimoso? Não bebericamos igual licor de ovo? Não viramos (ou estamos virando) mão-de-obra escrava à disposição de empresas paulistas e/ou multinacionais que para aqui vieram com a nobre intenção de economizar 80% nos salários? Não escrevemos textos estupidamente entupidos de perguntas? E, sobretudo, não compartilhamos a idêntica desconfiança de que os amigos ursos, autóctones do sul do Trópico de Capricórnio, entocados entre os rios Paranapanema e Iguaçu, são incapazes de gestos desprendidos, de espontânea generosidade e distraída boa intenção?
Sossegue. Essas minhas desconsiderações podem, muito bem, ser apenas azedume passageiro. Mas, às vezes, é conveniente tomar uma dose dupla de chá de losna com vinagre e limão galego, cujo fel, dizem, evita que se crie calo na alma e limo no coração. É bom manter-se purificado, pois vem aí a conflagração universal. Como dizem as profecias, ela vai começar de um encontro mau-humorado entre os tubões da torcida organizada Império Alviverde e os rosários dos fiéis da novena do Perpétuo Socorro –que, apesar de vizinhos há quase um século, nunca se cumprimentaram.
Agora chega desse desleixo com o espírito alheio. Vamos ser otimistas. Numa dessas, na última hora, vem a recompensa: o Papai Noel me traz mais um bonequinho do Homem Invisível para a coleção.
Roberto Prado
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