Leia-se!

“Estava de castigo. As lágrimas secaram no rosto como a cola que ficava na ponta dos dedos quando fazia os trabalhos da escola. Estranho a química. Estranho. Fechou os olhos numa careta para sentir a lágrima beliscar seu rosto. 0 que havia feito de tão mal? Era uma menina má. Isso estava escrito. Foi quando viu a palavra entrar por uma brecha de claridade. A palavra estava de castigo também? Parecia cansada e veio até ali depois de tanto voar? O choro havia deixado um fungar involuntário. A palavra ouviu. E a olhou nos olhos assustada. Mas ela era uma menina tão má que num zás agarrou a palavrinha assustada. Pegou a palavra entre as mãos. No meio do voo. 0 coração da palavra palpitava. E o corpo estava quente da fuga. Como um passarinho prestes a morrer. E o quase morrer era tão bonito! Deixou a palavra aquietar-se em suas mãos. Olharam-se por um tempo. Eram de natureza diferente a menina e a palavra. Mas uma cabia na palma da mão pequena da outra. E uma deixou-se aquietar na outra. E tanto conviveram que depois de então uma passou a habitar as linhas da palma da mão da outra.”

AssioNARA SOUZA [Caicó, RN] vive em Curitiba. É autora dos livros Cecília não é um cachimbo [2005], Amanhã. Com sorvete! [2010], ambos pela editora carioca 7Letras. Publicou textos em vários jornais e revistas da cidade de Curitiba, além de manter o blog www.cecinest.blogspot.com

Kafka Edições. 2011. Coleção Livros que não param em pé. Com que se pode jogar| Luci Collin, O Rei era assim| Paulo Sandrini e Os hábitos e os monges|Assionara Souza. 120 páginas|Projeto gráfico e foto capa: Paulo Sandrini| Revisão: Assionara Souza & João Paulo Partala|Coordenação Editorial: Paulo Sandrini e Luci Collin|Produção Cultural: Pier Arte & Cultura| Impressão Serzegraf Ind. Edit. Gráfica Ltda, Curitiba. 

Sobre Solda

Luiz Antonio Solda, Itararé (SP), 1952. Cartunista, poeta, publicitário reformado, fundador da Academia Paranaense de Letraset, nefelibata, taquifágico, soníloquo e taxidermista nas horas de folga. Há mais de 50 anos tenta viver em Curitiba. É autor do pleonasmo "Se não for divertido não tem graça". Contato: luizsolda@uol.com.br
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