“Nesse silêncio vi as perguntas formando fila e calmamente apanhando as ferramentas de corte. E no silêncio compreendi a esfoladura a escavação o esmerilhamento. Eu percebi que uns saem ilesos — lhes é permitido desconhecer as agruras da esfoliação e igualmente a pressão irreversível do torno. Também percebi que outros — esses todos nós que não seremos poupados — terão que aguardar pelas respostas. Achando injusto, a princípio, e depois cedendo, e depois aceitando, assumindo a condição de ser em segundo plano. Nesse silêncio pude entender a espera, ou pelo menos tentei me aproximar de uma definição. Eu pude mensurar deuses e deuses, pude ver aquela planta cuja existência foi apenas – a partir de certo ponto que o destino previu — falta d’água, sede, secura, sequidão, estrangulamento. Eu pude compreender punhais e a evidência da dor enquanto ingrediente. Pude permanecer um lamento até que a própria voz se desfizesse. E eu queria entender em mim essa tormenta do silêncio para sempre no peso da canga do jugo da férula e desta inderrogável solidão.”
LUCI COLLIN [Curitiba, PR]. Tem 11 livros publicados. Entre eles Estarrecer [1984], Inescritos [2004] e Acasos Pensados [2008]. Participou de antologias nacionais como Geração 90 – os transgressores [2002] e 25 Mulheres que estão fazendo a literatura brasileira [2004], e internacionais [EUA, Alemanha, Uruguai, Argentina e Peru]. Leciona Literaturas de Língua Inglesa na UFPR.
Kafka Edições. 2011. Coleção Livros que não param em pé. Com que se pode jogar| Luci Collin, O Rei era assim| Paulo Sandrini e Os hábitos e os monges|Assionara Souza. 140 páginas|Projeto gráfico e foto capa: Paulo Sandrini| Revisão: Assionara Souza & João Paulo Partala|Coordenação Editorial: Paulo Sandrini e Luci Collin|Produção Cultural: Pier Arte & Cultura| Impressão Serzegraf Ind. Edit. Gráfica Ltda, Curitiba.
Sobre Solda
Luiz Antonio Solda, Itararé (SP), 1952. Cartunista, poeta, publicitário reformado, fundador da Academia Paranaense de Letraset, nefelibata, taquifágico, soníloquo e taxidermista nas horas de folga. Há mais de 50 anos tenta viver em Curitiba. É autor do pleonasmo "Se não for divertido
não tem graça". Contato: luizsolda@uol.com.br