Vejo, clara, ali na frente a eternidade estendida na paisagem e sei que ela se aproxima a cada dia, a cada minuto mais e mais próxima está a eternidade.

Sei também que ela me levará daqui e então, eu nunca mais voltarei a ver meus amigos, nem meus filhos, minha mulher, minhas netas, minha cadela vira-lata, nem ninguém!

Estarei sozinho na minha eternidade. Quieto. Sem piscar. Nem respirar. Eternamente.

Eu então, não serei mais eu.

Serei um parte microscópica deste grande nada de onde viemos todos e pra onde, desfeito o nó vital, retornaremos um dia para, eternamente, não mais sermos nós.

Sabe-se da vida quase nada, do pós vida muito menos e, assim sendo, sabe-se lá o que pode vir.

O Tempo, este nosso parceiro que por toda a nossa jornada nos acompanhou, não mais fará sentido quando alcançarmos a eternidade. Não existirão calendários por lá, nem relógios, nem cronômetros, nem distâncias. Ninguém fará mais aniversários. Nem primavera e nem inverno. Nada. Só o colossal abismo do infinito e é alí, dentro do coração desse imenso cristal onde reluzem as galáxias do universo, como ínfimas luzinhas minúsculas diante do todo escuro, que está contido todo o mistério da nossa vida e da nossa morte.

CTBA / 221222

Sobre Solda

Luiz Antonio Solda, Itararé (SP), 1952. Cartunista, poeta, publicitário reformado, fundador da Academia Paranaense de Letraset, nefelibata, taquifágico, soníloquo e taxidermista nas horas de folga. Há mais de 50 anos tenta viver em Curitiba. É autor do pleonasmo "Se não for divertido não tem graça". Contato: luizsolda@uol.com.br
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