Liberdade ainda que prisioneira

A Estátua da Liberdade se chama, oficialmente, Estátua da Liberdade Iluminando o Mundo. Ela foi oferecida, em 1886, à América pelos franceses e construída num dos acessos ao porto de Nova York. O escultor Frédéric-Auguste Bartholdi projetou-a para ter 91,5 metros desde a base do pedestal até a ponta da chama do facho. O pedestal é de granito e cimento, a figura, com 45,3 metros, é feita de chapas de cobre colocadas sobre uma estrutura de ferro e aço. Foi Gustave Eiffel, o mesmo da torre famosa, que a construiu. E ela fica lá servindo de cartão postal, inerte, mal iluminando suas próprias redondezas.

O mundo, mesmo, permanece meio que no escuro, no caos dos homens-bombas e dos atentados terroristas em geral. Nem sei por que conto isso. Talvez porque pouca gente consiga transpor a Porta de Jade, penetrando no Jardim das Delícias e conquistando os segredos da vida perene e satisfatória.

Não sabia como continuar o parágrafo anterior e parei. Acho que estava enveredando por caminhos difusos e comprometedores. Ou talvez apenas um pouco íngremes e cheios de musgos. Agora, respiro um pouco e tento engrenar.

Seria o amor espera e busca? Busca e espera? Um delivery sem mapa definido para a área de entrega? Um pedido de carinho que se pode fazer às quatro da manhã invernal, quando o ar treme de frio e solidão, com entrega prazerosa e imediata? Ou você pede a Estátua da Liberdade com batatas fritas e um refri? E dorme em meio a sonhos tumultuados de aviões que não levantam voo porque são feitos de madeira aglomerada que de desfaz em serragem quando tocada?

E a estátua chega de manhã, coberta de glórias passadas, com o fogo do facho apagado e murchos os lauréis que enfeitam a cabeça. “O amor é a estopa da natureza bordada pela imaginação”. Adicione um pouco de querosene e breu à estopa devidamente dobrada, prenda cuidadosamente na boca do balão, acenda e cante… noite de junho, céu estrelado, balão subindo, clareando a escuridão…

*Eu sou assim mesmo, não adianta.

Sobre Solda

Luiz Antonio Solda, Itararé (SP), 1952. Cartunista, poeta, publicitário reformado, fundador da Academia Paranaense de Letraset, nefelibata, taquifágico, soníloquo e taxidermista nas horas de folga. Há mais de 50 anos tenta viver em Curitiba. É autor do pleonasmo "Se não for divertido não tem graça". Contato: luizsolda@uol.com.br
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