Depois de encurralar Bolsonaro, deputado tenta emparedar presidente eleito e STF
Arthur Lira é um aluno aplicado. Aprendeu com Eduardo Cunha a sufocar a oposição e esmagar o governo até arrancar o que deseja. O chefão da Câmara encurralou Jair Bolsonaro, transformando-se num arremedo de primeiro-ministro. Nesta semana, apresentou a Lula seu cartão de visita.
O presidente eleito precisa abrir espaço no Orçamento para manter o Bolsa Família em R$ 600 e reajustar o salário mínimo acima da inflação. Para cumprir as duas promessas, depende de uma emenda à Constituição que flexibilize o teto de gastos. A proposta, batizada de PEC da Transição, foi aprovada com folga no Senado. Ao chegar à Câmara, parou na barreira de Lira.
O deputado apresentou uma farta lista de pedidos. Depois de fazer campanha pela reeleição de Bolsonaro, quer abocanhar cargos de peso no governo Lula. Como ainda não houve acordo, a votação da PEC foi adiada para a semana que vem. O impasse travou a definição dos futuros ocupantes da Esplanada.
Lira já deixou claro que não vai se contentar com migalhas. Seu sonho de consumo é o Ministério da Saúde, palco de desmandos e malfeitorias no atual governo. Depois de sobreviver a figuras como Eduardo Pazuello e Marcelo Queiroga, a pasta estava reservada para Nísia Trindade, a respeitada presidente da Fiocruz. A escolha deveria ter sido oficializada na última terça-feira. Como noticiou o UOL, a pressão do presidente da Câmara convenceu Lula a suspender o anúncio.
Um eventual recuo seria desmoralizante para o petista. Ele passou a campanha criticando a má gestão da Saúde na pandemia. Eleito, abriria mão de uma indicação técnica para acomodar um apadrinhado do Centrão. Lula tem sido criticado, com justiça, pela demora a nomear mulheres para cargos relevantes. A indicação de Izolda Cela para a Educação parece ter subido no telhado. Preterir uma professora na Saúde equivaleria a dizer que a representatividade continuará em segundo plano.