Luis Fernando Verissimo

Agora que o fim está perto
E se aproxima a última cortina,
Meus amigos, sei que estou certo:
Minha vida não foi rotina.

Vivi uma vida cheia,
Viajei pra não botar defeito.
E mais, mais do que isto,
Fiz do meu jeito.

Remorsos, tive alguns,
Mas, pensando bem, nem foram tantos.
Fiz o que tinha que fazer
Mesmo que aos trancos e barrancos.

Planejei cada passo tomado,
Em cada estrada ou caminho estreito,
Mas mais, mais do que isto,
Fiz do meu jeito.

Sim, sei que há quem diga
Que o olho foi maior que a barriga.
Mas em nenhum momento hesitei,
Engoli tudo e não regurgitei,
Enfrentei tudo
E não fiquei mudo.
E fiz do meu jeito.

Amei, ri e chorei.
Tive a minha cota de desengano,
Mas agora, que as lágrimas secaram,
Tudo me parece tão mexicano…

Pensar que fiz tudo isso
E, posso dizer, não sem muito peito.
Não mesmo, não este aqui:
Fiz do meu jeito.

Pois afinal um homem o que é
Se não sabe ficar de pé
E dizer o que realmente acredita
Sem temer a desdita?
Os autos estão aí
Pra mostrar que não fugi.
E fiz do meu jeito.

(Mas com a última cortina pendendo
Eis o mote para um psiquiatra.
Trocaria o meu jeito correndo
Pelo jeito do Frank Sinatra.)

assinatura-verissimo

Sobre Solda

Luiz Antonio Solda, Itararé (SP), 1952. Cartunista, poeta, publicitário reformado, fundador da Academia Paranaense de Letraset, nefelibata, taquifágico, soníloquo e taxidermista nas horas de folga. Há mais de 50 anos tenta viver em Curitiba. É autor do pleonasmo "Se não for divertido não tem graça". Contato: luizsolda@uol.com.br
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