Boa parte dos relatos do ex-ministro da Saúde sobre o início da pandemia já é conhecida. Em setembro do ano passado, Mandetta lançou o livro “Um paciente chamado Brasil”. Quase tudo o que ele tem a dizer está ali.
Mas integrantes da CPI tentarão arrancar de Mandetta detalhes da postura de Jair Bolsonaro e das decisões do governo federal que acabaram sendo determinantes para a forma como a pandemia avançou no país.
O Antagonista apurou, por exemplo, que o ex-ministro poderá ser provocado a contar como o presidente da República se negou a fazer uma campanha de conscientização nos primeiros meses da pandemia, contrariando conselhos até de seus ministros mais próximos.
Inicialmente, estimulado por aliados como o deputado federal Osmar Terra (MDB), Bolsonaro acreditava que a Covid nem sequer seria um problema para o Brasil, “porque aqui é quente” — havia um entendimento na coxia do Planalto de que o novo coronavírus era “um vírus do hemisfério norte”.
Depois, acreditando em uma tese furada de “imunidade de rebanho”, Bolsonaro passou a defender o tal “isolamento vertical”. O presidente realmente estava convencido de que bastaria deixar os mais jovens circulando para que o vírus se espalhasse e a situação fosse rapidamente resolvida.
Enquanto o Ministério da Saúde, na época de Mandetta, defendia uma campanha clara de conscientização sobre o comportamento do vírus, incentivando rastreamento de casos e posterior isolamento dos infectados, o Planalto topava, no máximo, uma campanha dizendo que o Brasil, vestido de verde e amarelo, “enfrentaria o vírus”.
O posicionamento de Bolsonaro nos bastidores não foi muito diferente do que ele se mostrou — e se mostra — em público em relação ao tema. Senadores que integram a CPI sabem que têm material de sobra para investigar o negacionismo do presidente e as consequências dessa postura, principalmente resultando na recusa de vacinas em um primeiro e crucial momento.
Mandetta só poderá deixar ainda mais claro como as escolhas de Bolsonaro, desde aquele março de 2020, contribuíram para o país acumular mais de 375 mil mortes até aqui.