“Estou aqui. Vamos juntos reconstruir o Brasil”.
Em 26 minutos de pronunciamento nas redes sociais, Lula alternou duras críticas ao governo com propostas para um novo contrato social liderado pelos trabalhadores, mas deixou claro que não aceitará qualquer acordo com as oligarquias que derrubaram Dilma e elegeram Bolsonaro.
“Nenhuma solução terá sentido sem o povo trabalhador como protagonista. Assim como a maioria dos brasileiros, não acredito e não aceito os chamados pactos pelo alto com as elites. Não contem comigo para qualquer acordo em que o povo seja mero coadjuvante”.
Posso estar enganado, claro, mas após conviver com Lula por mais de 40 anos, fiquei com a impressão de que o conteúdo e o tom desse discurso é de quem está disposto a lutar para voltar ao cargo que ocupou de 2003 a 2010.
Lula não falou das barreiras jurídicas que o impedem neste momento de ser candidato, mas se mostrou otimista sobre o futuro.
Procurou passar uma mensagem de esperança sobre a reconstrução do país e deixou claro que quer participar desse processo. Lula não nasceu para ser figurante, como ele disse no discurso.
“Mais do que nunca, estou convencido de que a luta por igualdade social passa, sim, por um processo que obrigue os ricos a pagar impostos proporcionais às suas rendas e suas fortunas. Nós já provamos ao mundo que o sonho de um país justo e soberano para todos pode, sim, se tornar realidade. Eu sei _ vocês sabem _ que podemos, de novo, fazer do Brasil o país dos nossos sonhos”.
Ao constatar que estamos vivendo um dos piores períodos da nossa história, com uma crise sanitária, social, econômica e ambiental nunca vista, Lula começou o discurso falando da “tristeza infinita” que está sentindo nestes últimos meses, em que “as pessoas acordam todos os dias sem saber se seus parentes, amigos ou eles próprios estarão saudáveis à noite”.
Pulando de um tema a outro, sempre no ataque, o ex-presidente criticou a substituição da direção no Ministério da Saúde por militares sem experiência médica ou sanitária, dizendo que isso é apenas a ponta de um iceberg.
“Em uma escalada autoritária, o governo transferiu centenas de militares da ativa e da reserva para a administração federal, inclusive em muitos postos-chave, fazendo lembrar os tempos sombrios da ditadura. O mais grave de tudo isso é que Bolsonaro aproveita o sofrimento coletivo para, sorrateiramente, cometer um crime de lesa-pátria, um crime praticamente imprescritível, o maior crime que um governante pode cometer contra seu país e seu povo: abrir mão da soberania nacional”.
“Não foi por acaso que escolhi para falar com vocês neste 7 de setembro, Dia da Independência do Brasil, quando celebramos o nascimento do nosso país como nação soberana. Soberania significa independência, autonomia, liberdade. O contrário disso é dependência, servidão, submissão”.
Para Lula, “a garantia da soberania nacional não se resume à importantíssima missão de resguardar nossas fronteiras terrestres e marítimas e nosso espaço aéreo. Supõe também defender nosso povo, nossas riquezas minerais, cuidar das nossas florestas, nossos rios, nossa água”.
Dessa vez, Lula não falou de improviso, como costuma fazer, para acentuar a grave ameaça que o país está vivendo.
“O governo atual subordina o Brasil aos Estados Unidos de maneira humilhante, e submete nossos soldados e diplomatas a situações vexatórias. A submissão do Brasil aos interesses militares de Washington foi escancarada prelo próprio presidente ao nomear um oficial general das Forças Armadas Brasileiras para servir no Comando Militar Sul dos Estados Unidos, sob o controle de funcionários norte-americanos”.
Lula falou que quem quiser saber os verdadeiros objetivos do governo não precisa consultar manuais secretos da Abin ou do serviço de inteligência do Exército:
“A resposta está todos os dias no Diário Oficial, em cada ato, em cada decisão, em cada iniciativa do presidente e de seus assessores, banqueiros e especuladores que ele chamou para dirigir nossa economia”.
Confinado em casa há mais de seis meses por causa da pandemia, depois de passar quase dois anos na prisão em Curitiba, Lula já está cansado de fazer política por vídeo-conferência e quer voltar logo às ruas. Antes, porém, ele quer marcar o casamento com a namorada Jana, como prometeu a ela.
Com esse discurso, Lula está de volta ao jogo. Podem escrever. Vida que segue.