A EXECUÇÃO DE MARIELLE FRANCO, a vereadora do Rio de Janeiro, evoca o episódio de 1804, na França, em que o cônsul Napoleão Bonaparte mandou um regimento clandestinamente ao ducado de Baden, na Alemanha, para sequestrar o duque de Enghien, da família Bourbon, destronada na Revolução Francesa. O futuro imperador temia que Enghien liderasse a restauração da dinastia – e frustrasse seu projeto pessoal de empalmar o trono.
O duque, jovem de 31 anos, não participava de movimento restaurador. Recém tinha casado e não exercia qualquer liderança, sequer controlava forças militares. Trazido à França, foi julgado no mesmo dia e fuzilado horas depois, na madrugada. O caso provocou comoção na Europa e ampliou o isolamento da França, já desgastada entre as casas reais devido a seu modelo republicano e ao morticínio do Terror.
Um dos auxiliares de Napoleão, o bispo Charles-Maurice de Talleyrand-Pèrigord, acabado estadista de perfil maquiavélico, fez o comentário que ficou na História sobre a execução do duque de Enghien: “Mais que um crime, foi um erro”. Como a execução de Marielle Franco, que mobilizou multidões raramente vistas no Brasil contemporâneo.